Retrato da intervenção
Poderia haver imagem mais exata do Brasil? Os delinquentes fluminenses fritam pessoas no “micro-ondas”; estupram meninas de 15 anos em gangues de trinta; alvejam no ventre materno bebês que vão do útero ao necrotério sem passar pela maternidade; guiam o carro por cima do assaltado que deitou no chão inerme conforme ordenado pelos árbitros da vida e da morte por puro tédio, só porque podem, só porque sim. Mas o que deixa o doutor, o professor, o jornalista, o apresentador, o universitário, o youtuber, o palpiteiro, o lacrador indignado é que o exército fiche moradores da favela.
Se o bandido, como tanto gostam de afirmar os humanitários da vida alheia, tem o atenuante da origem pobre e ignorante, o mesmo não se pode dizer de nenhum desses que se empenham tanto em defendê-lo e que são, pois, piores que o criminoso, mais responsáveis pelo estado de coisas, assim como o tirano que declara a guerra que não luta está mais sujo de sangue do que o soldado que aperta o gatilho.
E você, em vez de escandalizar-se com isto, escandaliza-se com os palavrões de Olavo de Carvalho, com a grossura do Bolsonaro, com a obtusidade dos velhos que imploram, cheios de razoabilidade e bom senso, por uma ditadura dos militares que os livre da ditadura dos criminosos?
Enquanto perdurar esta inversão diabólica de todas as prioridades e de todo o senso das proporções os 70 mil homicídios por ano não poderão deixar de perdurar. O bárbaro, para deixar de sê-lo, precisa primeiro tomar ciência de que o é. Digamos, pois, em alto e bom som: Enquanto estes filhos da puta do caralho que são os verdadeiros fabricantes da arma com que o traficante mata não forem caçados a chineladas como os ratos portadores da peste que são, continuaremos na merda.
(E.L.)