PARQUE DAS CACHOEIRAS: Onde o passado e o futuro se encontram

PARQUE DAS CACHOEIRAS:

Onde o passado e o futuro se encontram

Grande empreendimento imobiliário ao longo do trecho encachoeirado do rio Betim começa a mudar os panoramas urbanos e econômicos de Betim.

Em alegre ritmo de marchinha, o Hino de Betim descreve a cidade como um lugar "junto ao Ribeirão da Cachoeira". De fato, para quem conheceu a cidade até os anos setenta do século passado o aspecto mais notório daquela Betim pré-industrializada era a beleza paisagística das corredeiras que o rio Betim apresenta entre a ponte da Av. Amazonas e o bairro Pingo D'água. Trata-se de quatro quedas d'água se sucedendo sobre um leito rochoso de granito ao longo de dois quilômetros onde, como marco histórico da industrialização de Betim, fora implantada a usina hidrelétrica "Doutor Gravatá", cujo pioneirismo permitiu o estabelecimento das primeiras indústrias da cidade ainda no início do século XX. Por décadas essas cachoeiras foram cenário de pescarias, piqueniques e passeios amplamente registrados em fotografias e relatos que contrastam sobremaneira com o rio poluído e inacessível que a população se acostumou a ignorar. Chega a ser difícil de acreditar que o hoje degradado rio de Betim tenha sido um dia local de visitação e surpreende a muitos que ainda haja resquícios desse passado recente. Todavia, apesar de toda carga de águas servidas, esgotos domésticos e lixo que a cidade continua despejando em seu rio, as cachoeiras continuam onde sempre estiveram, despertando no betinense que as revisita um misto de nostalgia e desejo de mudança.

Não obstante, a oportunidade de Betim reencontrar seu ribeirão encachoeirado parece estar mais próxima do que se supunha: a recente abertura ao tráfego do Bulevar das Cachoeiras -- via arterial que prolonga a Av. Edmeia Matos Lazzarroti desde o bairro Decamão até a Rodovia BR 262 -- tem permitido que a iniciativa privada e o poder público se debrucem sobre essa região da cidade e anunciem repetidos investimentos e intervenções que prometem estabelecer um novo vetor de desenvolvimento residencial e industrial. Após anunciar com certo estardalhaço na imprensa investimentos de cerca 1 bilhão de reais no município, a MRV Engenharia iniciou em 2015 as obras de urbanização da antiga Fazenda Cachoeira com dois empreendimentos: o loteamento "Parque das Cachoeiras" e o distrito industrial P.I.B. - Parque Industrial de Betim. Nesse meio tempo, a prefeitura passou de uma postura passiva no governo anterior para uma negociação tensa e complexa que culminou com a assinatura do Termo de Ajustamento Municipal firmado entre Prefeitura e Empreendedor publicado no jornal oficial do Município em 13 de janeiro deste ano. Segundo a referida publicação, serão cobrados três milhões, seiscentos e vinte e cinco mil reais a titulo de Contrapartida Social para a emissão de alvará para a construção de 1000 apartamentos no loteamento recém-urbanizado. O Termo assinado estabelece ainda a entrega do prédio histórico da usina “Doutor Gravatá” – devidamente restaurado pelo empreendedor – como bem de uso público, além de apresentar projetos para revitalização paisagística das margens do rio Betim por meio de um “Parque Linear”, cujo uso e propriedade também passarão para o poder público municipal.

Foto: Usina Dr. Gravatá após o restauro – jan/2018.

Marcada para março próximo, a abertura do prédio tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal ao público permitirá aos betinenses resgatar o contacto que seus antepassados mantinham com rio e permitir a visualização dos problemas que a poluição do rio promove enquanto tolerada ou ignorada pela população. Visitar a cachoeira do rio Betim, mais do que uma peça de propaganda de empreendimento imobiliário, deve propiciar àqueles que procuram por lazer em nossa cidade o exercício de uma reflexão continua sobre a degradação do meio ambiente e, espera-se, do desejo de re-equilíbrio entre as atividades humanas e a conservação ambiental para um desenvolvimento sustentável.