Brasil: Todo dia um Guararapes
*Sineimar Reis
O desabamento do viaduto Guararapes está prestes a completar quatro anos, a queda, durante a Copa do Mundo, deixou duas pessoas mortas e 23 feridas na Avenida Pedro I, na Região da Pampulha. Dois processos apuram as responsabilidades cíveis e criminais, mas pouco foi resolvido até agora. A área onde as alças que passavam sobre a avenida se apoiavam permanece isolada por tapumes, tijolos e arame farpado. O mato toma conta da área, e há lixo sendo depositado nos cantos. Buraco na calçada e resto de obra também são problemas evidentes. De acordo com pesquisas, a Consol, responsável pelo projeto, afirma que a culpa é da Cowan, que mudou o projeto original e que não fez o devido acompanhamento da obra. Já a Cowan alega que a única responsável pela queda do viaduto é a Consol, que teria errado o cálculo de material em uma das vigas, assim nesta discussão de culpados, a população que fica prejudicada. Quase quatro anos e ainda nada, absolutamente nada foi resolvido, no Brasil afora está do mesmo jeito, nada se resolve, os políticos esbaldando e a população sendo dilacerada pela corja que, para eles não podemos pensar em crise. Devemos trabalhar e esquecer a crise, como afirmou o Michel Temer.
Sim, a crise ainda assola nosso país, e sim, 2018 será um ano provavelmente mais difícil que 2017. O Brasil está à beira do caos porque após o golpe se mergulhou na mais grave crise econômica dos últimos 85 anos, similar à que abalou o País em 1930. O Brasil é um país que está em estágio terminal. A situação do Brasil é tão crítica que o HSBC, maior banco europeu e o sétimo maior do mundo, decidiu abandonar o Brasil vendendo seus ativos abaixo do valor de mercado ao Bradesco, em contrapartida, diversas companhias multinacionais resolveram fechar as portas ou vender suas operações. A maioria das saídas aconteceu nos últimos três anos. Os grupos estrangeiros perceberam que não seria possível expandir suas operações localmente e que os resultados negativos das filiais brasileiras começariam a impactar o desempenho global das empresas.
Por outro lado, o desemprego também arruína o país, para mim, e outros milhões de brasileiros, a solução agora é a saída do interino Temer, pois o compromisso do governo golpista não é com o emprego, mas com o capital estrangeiro. Lembro-me de Temer em um pronunciamento como presidente denunciado por corrupção, o presidente golpista perdeu o último trunfo que lhe restava: a serenidade. Fora de si, deixou antever o que tem por dentro: raiva excessiva e razão escassa. Movido pelo excesso, atirou no próprio pé.
O brasileiro desconfiado, não perde muito ao não acreditar na fábula que o presidente construiu para lhe servir de refúgio. A plateia tem sempre a sensação de estar perdendo alguma coisa com o seu ceticismo. A metafísica envolvida na narrativa presidencial é mais rica e divertida do que este materialismo chato em que corrupção é sempre, inapelavelmente, corrupção. O povo brasileiro não aguenta mais tamanha má gestão por parte do desgoverno, cada dia um novo “Guararapes” desaba em cima da nação verde e amarela, desde o fechamento de várias empresas ao Sistema Único de Saúde (SUS), este que é fruto de uma desgovernança e revisão radical. Conceitualmente, trata-se de um dos mais ambiciosos projetos sociais do mundo: o SUS garante a toda a população atendimento médico universal, gratuito. Mas, se no papel anunciava-se o melhor dos mundos para quem precisasse recorrer ao sistema público de hospitais, clínicas, postos e ambulatórios, no mundo real o brasileiro continua a penar em filas de atendimento, nem sempre há médicos à disposição, sofre em emergências e amarga longos períodos de espera por uma cirurgia, ou mesmo simples consulta. Afirmo aqui sem deixar rastro de dúvidas, a Saúde do brasileiro está longe de ter equacionado suas demandas, a saúde pública vai mal porque seu financiamento seria insuficiente. Ainda que na administração verbas sempre sejam bem-vindas, este é um argumento que não se sustenta nos números. No governo de Dilma foi criado o programa mais médicos, os profissionais cubanos que integraram o programa já foram relatados por centenas de pacientes como uma solução, no início, porém, não foi de elogios. Vítimas de uma resistência orquestrada por grandes veículos de comunicação e bastante hostilizados pelos partidos de oposição e por boa parte da classe médica brasileira quando chegaram ao Brasil, os médicos cubanos mostraram que têm muito a ensinar. Pois é agora você caro leitor, sabe quem mandou os Médicos Cubanos embora? Foram os Senadores do PSDB. Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Aloysio Nunes (PSDB-SP) que apresentaram projeto para proibir cubanos no Mais Médicos eles ignoraram a importância desses profissionais na vida de quem antes não tinha acesso a médicos, além da excelência do atendimento humanitário relatado pelos pacientes. Mais um “Guararapes” desaba na população carente Brasil afora, principalmente na Bahia onde existem necessidade e que gados e bodes passam fome.
Nós brasileiros, estamos no vermelho, entramos numa história jamais vivida, estamos sendo humilhados, entramos em um processo que faz a imprensa internacional exalar desconfiança. Nossa terra querida surge lamentavelmente humilhada, nossa democracia foi roubada, o país inteiro foi enganado e o “Guararapes” cai em cima dos direitos trabalhistas, a reforma que já entrou em vigor pelo Senado em regime de urgência, retirou os direitos trabalhistas e sociais, levando o Brasil ao caos social, os pontos da reforma trabalhista que mais prejudicou os trabalhadores foi a terceirização indiscriminada, o trabalho autônomo e intermitente, que consequentemente também têm impacto nas aposentadorias. Também é inadmissível permitir que a trabalhadora gestante e lactante possa trabalhar em lugares insalubre, como prevê um dispositivo que ela se mantenha neste tipo de trabalho se o médico autorizar.
As vigas do "Guararapes" parecem não ter ligas, e está desestruturada, o Brasil todo vai desabar, fica agora com mais essa: Maioria dos deputados aprova projeto que parcela o 13º salário dos servidores Públicos. Um Congresso contaminado por corrupção aprovou, por maioria, nas Assembleias Legislativas de vários Estados, o projeto que autoriza o Governo do Estado para o pagamento do 13º dos servidores, aqui em Minas o décimo foi parcelado em quatro vezes, a última parcela será paga em escala de abril. Estamos no fim, retornamos aos tempos sombrios das forças políticas, que, fizeram do desemprego, do arrocho salarial e dos ataques aos direitos dos trabalhadores as âncoras da estabilidade econômica sem distribuição de renda e da política fiscal sem desenvolvimento. De volta ao poder, sem voto, e prontas para voltar à carga, um verdadeiro retrocesso desabou no Brasil que a gente ama. Enfim, nada sugere que a política e a economia consigam “conviver” em 2018 sem a contaminação e efervescência forte entre ambas, com possibilidade de a política predominar sobre a retomada da atividade econômica com a intensidade que vem sendo propagada, que agora, seguramente, precisa ser revisada com uma dose de sensatez e precaução, pois nem tudo está tão sereno e fácil de ser vislumbrado.
Agora só nos resta desviar de mais um "Guararapes", a reforma da previdência. Não nos parece que a reforma previdenciária terá maior apoio na sua tentativa de votação em fevereiro próximo, podendo haver ainda maior constrangimento por parte dos políticos que estarão pleiteando reeleição. Não se descarta ainda que tenha que sofrer novos remendos e descaracterizar-se um pouco mais. Bom, devemos saber nos desviar das quedas, pois muitos políticos podem ser contra a reforma só para se reeleger, fiquemos espertos. A regra permanente da reforma da Previdência prevê que a idade para pedir aposentadoria será de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, tanto do setor privado como do público. Mas o tempo mínimo de contribuição é diferente: no INSS, no mínimo 15 anos de contribuição, e no serviço público, 25 anos. Os trabalhadores do setor público e os da iniciativa privada que quiserem se aposentar com o benefício máximo a que tem direito terão que contribuir durante 40 anos. O valor do benefício será calculado com base na média de todos os salários de contribuição. Depois que a reforma for aprovada, começa um período de transição de 20 anos até que a regra permanente passe a valer para todos. Pelo menos uma mudança na reforma vai ser discutida até fevereiro. Para tentar conseguir mais votos, principalmente do PSDB, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, vai negociar uma regra de transição diferente para quem entrou no serviço público antes de dezembro de 2003. A mudança pode beneficiar até 1,5 milhão de servidores e foi um pedido da bancada tucana e do funcionalismo público. (Será?)
Para fechar, só mais uma queda fatal do "Guararapes". Petrobras anuncia novo aumento no preço da gasolina nas refinarias, em média, o preço do combustível chegará a R$ 4,030 a cada litro. Com a palavra, o leitor!