CORTEJO FÚNEBRE DA JUSTIÇA

CORTEJO FÚBRE DA JUSTIÇA (19/12/2017)

Por Gecílio Souza

Nunca tive dúvidas sobre a inocência do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, face à orquestrada onda denuncista e levianas acusações que se desencadearam contra ele. Porém, após assistir, por quatro vezes, o vídeo do seu depoimento prestado ao juiz de Brasília, numa terça feira (14/03), a minha convicção não apenas se consolidou, como me levou a formular uma tese que exporei no decorrer deste ensaio.

Pude identificar uma diferença brutal entre os processos que correm, respectivamente, em Curitiba e em Brasília. Aqui no Distrito Federal o magistrado determinou a gravação do depoimento e tratou o acusado como um cidadão que, como recomenda a sensatez, é digno de respeito. Ante à segura e convincente exposição do ex-Presidente, corroborada pela absoluta inexistência de provas, não resta outra alternativa ao juiz, senão a de sumariamente absolvê-lo. Já no front curitibano, o quadro retrata muito mais um enredo dantesco (quixotesco) do que a busca da verdade e a promoção da justiça pelas vias judiciais. Ali se posta um juiz pernóstico, tacanho e autoritário, que se arvora à condição de “a justiça sou eu”, “o Estado sou eu”. Avilta o democrático e sagrado princípio do contraditório, eclipsa a transparência, desautoriza gravações das audiências e revoga a imparcialidade, excepcionando atos e iniciativas expressamente vedados pela Constituição. O sr. Moro se exaspera da competência de magistrado, de se pronunciar exclusivamente nos autos, e explicitamente assume a bandeira político partidária lastreada do fundamentalismo jurídico-religioso. Na verdade, esse juiz tenta colocar no banco dos réus não o ser humano Lula, mas uma concepção de Estado por ele representado. O mesmo Estado resgatado pelo ex-Presidente, através do fortalecimento das instituições, caiu nas mão de grupos criminosos que declararam guerra a um projeto político inclusivo e efetivamente democrático. Em ambos os casos, puseram no banco dos réus não o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, mas uma concepção de Estado, um projeto de país, um sonho de nação igualitária e não excludente, como a defendida pela direita vetusta e mal educada.

O diferencial se resume ao tratamento dispensado ao investigado, pois enquanto o oposicionista togado de Curitiba conduz o julgamento nos moldes do medievo tribunal eclesiástico, o magistrado de Brasília observou o princípio da protocolar civilidade. Tratamento meramente formal, pois o “elegante” juiz, ao indagar sobre o grau de instrução de Lula, reproduziu a sanha estigmatizadora de um segmento pseudo culto que mercantiliza diplomas, mas carece da necessária noção de educação. E o cortejo fúnebre da justiça segue viagem rumo ao velório e enterro no TRF4 em Porto Alegre, pois como todo cidadão bem informado e consciente sabe, a sentença já foi decidida entre o Moro e o presidente daquele tribunal que, a meu ver, figura-se muito mais como uma tribuna política do que como um tribunal de justiça. Alguém tem dúvidas de que a sentença contra o ex-presidente será confirmada no dia 24 do próximo mês? Milhões de brasileiros, inclusive este articulista, têm a convicção de que a decisão condenatória apenas se transferiu das mãos do carniceiro de Curitiba para a mesa do TRF4, que a confirmará com maior pirotecnia midiática.

Somente a mobilização popular será capaz de sustar a marcha da insensatez, que se iniciou em 2014 e segue um calendário previamente estabelecido, cuja conclusão se dará com a crucificação pública de Lula antes das eleições de 2018. A despeito do firme e incondicional apoio da mídia e do capital financeiro, os lavajateiros estão pisando em terreno minado e, embora tentem não transparecer, estão apreensivos. O Brasil há de se levantar, Porto Alegre há de rechaçar, de forma contundente e definitiva, a sanha persecutória deste judiciário capturado por fundamentalistas de direita.

Sem a grandeza e a dignidade de recuarem, reconhecendo a inocência do ex-presidente, irão continuar, não somente à margem da legalidade, mas ao seu arrepio, pois entraram num beco sem saída e sabem, que cedo ou tarde responderão por sua suicida aventura judiciária.

G. S.

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 19/12/2017
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