A abrangência do neoliberalismo
Noam Chomsky, professor do MIT (Massachussets Institute of Technology), um dos mais renomados intelectuais vivos, nos diz que “o neoliberalismo é uma ideologia que afirma expandir a liberdade quando de fato aumenta a tirania”. As corporações transnacionais e as instituições financeiras de peso no mundo, organismos que efetivamente decretam a ordem mundial, atuam na “estagnação ou declínio dos salários para a maioria das populações”.
Alega o célebre linguista que a permissão de liberdade que se dá ao capital e o alto grau de proteção a ele concedido colocam “os trabalhadores uns concorrendo com os outros”.
Como o capital adquire maior liberdade, tornando-se até especulativo, no neoliberalismo não se tem o menor compromisso com a redução da taxa de lucro, elemento motivador das desigualdades sociais e das consequentes tensões entre ricos e pobres. Tensões que seriam reduzidas na razão direta da redução das desigualdades. O que não pode estar incluído no projeto neoliberal.
Fica fácil entender, portanto, que o neoliberalismo favorece a redução da democracia, sendo desejável que “as pessoas voltem a ser mais passivas e apáticas”. Ou que, se possível, nem pensem. Uma forma meio coercitiva de se evitar as tensões.
Nos EUA, em certa época foram criados “projetos arquitetônicos para colégios, por exemplo, de tal modo que grandes manifestações não eram possíveis de serem organizadas nesses espaços”. O que nos lembra o período ditatorial brasileiro em que o regime seriado foi banido de nossas universidades em favor do regime de créditos. Com o objetivo de impedir ou dificultar a formação de lideranças estudantis.
Apesar de todo o poder de que os militares puderam dispor, a ditadura não reduziu praticamente em nada as desigualdades sociais. O que também não ocorreu, até agora, com os governos civis que se sucederam.
E o governo Lula, de esquerda, que poderia representar a alternância de regime, conquistou, em função disso, um expressivo apoio popular. Com que obteve, ao iniciar-se, inegáveis sucessos, como a contenção da inflação, a inclusão do Brasil no grupo BRICS e maior projeção do país no cenário internacional. Só que, apesar de todo o poder adquirido com o apoio das urnas, também muito pouco realizou pela redução das desigualdades. Na medida em que da mesma maneira favoreceu o neoliberalismo, permitindo que instituições bancárias obtivessem lucros significativos em seu governo e no de Dilma. E que empresários conseguissem com facilidade vultosos financiamentos, como foi o caso da J&F. Que teve como presidente do conselho, em 2012, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no governo Lula, atual ministro da Fazenda e possível candidato a Presidente em 2018. O que nos leva a admitir como clara a preservação da liberdade do capital.
Em troca, as populações de baixa renda foram contempladas com programas de certo cunho assistencialista, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Que se têm validade indiscutível, não significam uma efetiva melhoria de vida para a população menos favorecida. População que continuou sem emprego, educação, saúde e, no âmbito geral, segurança e transporte de qualidade nos grandes centros.
E agora, ou mais especificamente após o Mensalão, observamos o recrudescimento absurdo e abusivo da corrupção, uma doença gestada, pelo menos, desde o início da República. Corrupção com a qual corremos o risco de nos distanciarmos de modo irreversível da redução das desigualdades sociais. Cuja proximidade maior do equilíbrio significa a normalidade para a vida de qualquer país.
Rio, 11/12/2017