'AO REI TUDO, MENOS A HONRA"

O processo de Márcio Moreira Alves fez com que se revelasse, no Brasil, uma personalidade política que orgulharia a todos nós nordestinos. O deputado Djalma Marinho protagonizou uma das mais célebres páginas da nossa história, quando, não se curvando às pressões do governo, deu seu grito de independência discordando com veemência da desmoralização do parlamento intentada com a cassação do deputado carioca, ferindo assim um dos princípios basilares da democracia: a prerrogativa constitucional de que o parlamentar é absolutamente livre no seu direito de palavra e de voto. Djalma Marinho costumava dizer: “Eu não sou um homem do governo, nem sou um homem de governo; eu sou um homem do Congresso”. E assim pautou sua atuação na Câmara Federal.

Na condição de presidente da Comissão de Constituição e Justiça, fez valer ainda mais forte essa sua afirmação. Não transigiu em nenhum instante na defesa da autonomia do poder legislativo. No dia onze de dezembro, após a proclamação do resultado da CCJ oferecendo parecer favorável ao processo de cassação do deputado Márcio Moreira Alves, pronunciou um discurso que dignifica e engrandece a nossa história política.

Inspirado num teatrólogo madrileno do século 17, Calderón de La Barca, Djalma Marinho renunciou a presidência daquela Comissão, comunicando ao Brasil seu protesto contra a forma ditatorial com que o governo procurou forçar a representação legislativa a aceitar, por imposição, a punição de um companheiro parlamentar.

Eis um trecho desse memorável discurso de Djalma Marinho: “Na minha vida pública, como representante de um pequeno estado, tenho mantido fidelidade à ordem democrática. Ao longo do tempo, mesmo na minha humildade, a ela ofereci a minha vassalagem, mas nunca o atendimento a exigências e concessões absurdas, como esta. Passada a tormenta e esclarecidos os homens, virá o tempo da reconstrução. Rejeitar este pedido é um ato de bravura moral igual àquele oferecido por Pedro Calderón de La Barca: AO REI TUDO, MENOS A HONRA”.

Ao fim do seu pronunciamento, o deputado Martins Rodrigues não se conteve e gritou: “De pé para aplaudir um homem” e todos se puseram de pé e ovacionaram o orador. Essa citação passou a ser referência de todos os que também assumem posições contrárias aos governantes que querem exercer o poder sem respeitar as leis e atacando convenções universais da democracia.

*Do livro “1968 – O GRITO DE UMA GERAÇÃO”

Rui Leitão
Enviado por Rui Leitão em 11/12/2017
Código do texto: T6196047
Classificação de conteúdo: seguro