Não somos nem queremos ser honestos
Durante a campanha presidencial, ao acusar Aécio Neves de defender uma política econômica “má”, de que iria arrochar salários, perseguir os benefícios dados aos mais pobres, diminuir o número de concursos, diminuir o crédito, entre outros, e que ela seria diferente, Dilma Roussef hipotecou seu futuro governo.
O carro-chefe da campanha petista, em termos práticos, foi a condição de pleno-emprego na qual o país se encontrava à véspera da eleição. Embora fosse um trunfo para qualquer político, de direita ou de esquerda, aquela situação não era sustentável. Os empregos, naquele nível, foram mantidos artificialmente, assim como toda a economia. Ela o fizera por meio da manutenção de um política de credita proibitiva às contas do Estado, bem como do controle artificial dos preços de energia e gasolina, à custa da saúde financeira das estatais.
Eleição ganha. Quando o ano virou, ficou evidente a mentira. Todas as medidas tomadas posteriormente foram contrárias às promessas de campanha. Burrice política? Nem um pouco. Foi, ao contrário do que se parece, um dos raros momentos de responsabilidade e sanidade mental da ex-presidenta. Manter as coisas como estavam era simplesmente insustentável. Só aumentaria uma bolha que, mais hora menos hora, explodiria.
Foram-se, então, os empregos, veio a inflação, principalmente envolvendo mantimentos, água, luz e gasolina. O cidadão, que antes estava orgulhoso do seu poder de compra, hoje mal podia se manter. O povo, logo foi à rua se manifestar(pelo menos uma parte expressiva dele). Durante as manifestações pró impeachment, eram muitas as fachas acusando – com justiça – o PT de ser uma quadrilha disfarçada de partido político. O fim da história todo mundo já sabe.
Hoje, no entanto, vemos um presidente cujo assessor e um dos principais aliados foram filmados correndo com uma mala de dinheiro recebida às sombras em uma pizzaria. Apenas isso? O próprio presidente foi gravado em uma conversa, como diria um ex-procurador da República, “pouco republicana” na calada da noite, com um criminoso confesso a discutir o silêncio daquele que deu cabo ao mandato de Dilma Roussef, o ex-presidente da câmara do deputados, Eduardo Cunha. Onde estaria o povo senão nas ruas a protestar?
As ruas estão cheias – nos horários de pico, com o engarrafamento de carros e ônibus públicos sucateados. Se em algum momento a ética fosse pauta significativa para o povo brasileiro se revoltar, Michel Temer não estaria na Presidência da República nem mais um dia após a divulgação das escutas “pouco republicanas”. Como, porém, a economia apresentou algum alívio, o “batom na cueca” exposto pelos irmãos Batista não estampa nenhuma faixa exigindo a renúncia ou o impeachment de um presidente que, como é cristalino, veio para “estancar a sangria” causada pela Lava-Jato. A julgar pela fala do novo diretor da Polícia Federal (o que seria uma mala de dinheiro, não é mesmo, leitor?), o Presidente já logrou algum sucesso em sua missão pouco republicana.