CUBA: POR LA LIBRE OU POR LA LIBRETA? - Dilemas atuais da revolução cubana.
O texto abaixo é tão somente a introdução de um trabalho maior que infelizmente não cabe neste espaço. O leitor interessado no texto completo pode encontrá-lo em "Causos" em www.ctbornst.blogspot.com.br.
Uma análise da situação atual em Cuba possibilita um melhor entendimento de fatos que abalaram profundamente o mundo na década de 90 e que são, em grande parte, responsáveis pela crise mundial que vivemos hoje. Pode-se aperceber concretamente as imensas dificuldades de implementação de um modelo socialista centralista e centralizador. Tão difícil como o modelo, é, no entanto, a sua avaliação, pois existe o risco de se cair em posições extremas que em nada contribuem para encontrar os novos caminhos que o mundo tão urgentemente precisa. No caso de Cuba, a maioria dos relatos de direita ressalta a pobreza, a falta de opções de consumo, as deterioradas condições de habitação, as dificuldades de acesso à internet e os problemas que o cubano enfrenta para conseguir fazer viagens internacionais. Relatos da esquerda ressaltam as boas condições de saúde e educação da população, a ausência de miséria e desemprego e desculpam os problemas do consumo deficiente com o bloqueio, a queda dos regimes socialistas do leste europeu, a crise econômica atual e os furacões.
A crítica ao posicionamento da direita é óbvia. Se é difícil negar os problemas de consumo em Cuba, mormente quando atingem setores básicos como alimentação, habitação, transporte e infra-estrutura (água, eletricidade e telefone), por outro lado, há que se levar em conta que ao fazer a crítica, na maioria das vezes, toma-se como parâmetro de comparação aquela parcela minoritária da população do terceiro mundo que tem condições de consumir. Há que lembrar que em Cuba os salários são pouco diferenciados, de maneira que o poder aquisitivo da população não apresenta as discrepâncias do mundo capitalista. Assim, garantir o consumo em Cuba significa garanti-lo para toda a população e não tão somente para uma pequena minoria, o que representa um esforço de produção muito maior do que aquele que corresponde à maioria dos países do terceiro mundo. Cabe também lembrar que os problemas de consumo, em particular as condições deficientes de habitação, afetam principalmente Havana, o portão de entrada e saída da maioria dos visitantes. Lá, as velhas construções dos ricos foram entregues à população de renda mais baixa, transformando-se em cortiços e sobrecarregando as redes de água e luz. No resto no país as construções são modestas, porém decentes e no interior existem bem menos problemas de alimentação.
A crítica ao posicionamento da esquerda é mais difícil porque mais sutil. É forçoso admitir que existe alguma coisa errada com um país com o clima e a fertilidade de Cuba, que depois de mais de 50 anos de revolução ainda precisa importar 70% dos alimentos que consome e, pior, utiliza tão somente metade da área agricultável. Evidentemente o bloqueio, principalmente no passado, ocasionou muitos problemas. Mas atribuir todas as dificuldades às tensas relações com os EUA, à crise mundial ou questões ambientais, em nada ajuda à construção de uma nova alternativa socialista viável. Já é tempo da esquerda abandonar as muletas dos velhos paradigmas do "socialismo real" e ousar novos caminhos. O socialismo historicamente é algo muito recente e é natural que falhas sejam cometidas. Cabe aprender com os erros e mostrar que é possível realizá-lo de forma melhor.