A ESPERANÇA NÃO VESTE TOGA
Desde que os escândalos de corrupção foram se avolumando no Brasil a partir do “Mensalão”, os políticos viram o já pouco crédito que tinham com a sociedade brasileira não apenas zerar. O saldo está perigosamente negativo. E as soluções que encontram estão longe de tirá-los do vermelho.
Para ficar no âmbito contábil, em “contrapartida” à sociedade passou a apostar suas fichas e esperança no STF. Acho que foi no julgamento do “Mensalão”, quando nossos juízes da Suprema Corte tiveram de se acostumar a conviver com os holofotes da mídia, que a decepção com o mundo da toga começou.
Se isto não bastasse, ainda fomos premiados com “teatro” do ministro Ricardo Lewandowski no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff. Decidiu-se esquecer a Constituição para garantir a ex-presidente seus direitos políticos. Diferente de outros.
Certa vez, durante um programa de debate na TV ouvi um ex-ministro do STF que também o presidiu dizer: “A Constituição é um livro, portanto cabe várias interpretações”. Naquela ocasião ela repousava no seu colo. Em outra, foi bramida pelo senador Renan Calheiros.
“Data venia” ao ex-ministro, concordo que ela possa repousar no colo ou ser bramida, mas do alto da minha mediocridade, não posso aceitar que a Constituição do meu país seja um livro que permita várias interpretações. Nossa Constituição não pode se prostituir ao “talvez político”, de acordo com a cara do freguês.
Aos olhos da sociedade a aura do STF vinha se dissolvendo num ritmo acelerado. Temo que tenha sumido completamente após o julgamento da semana passada. Diferente do que pôde ser lido nos artigos da mídia, não foi o STF que se apequenou. Foram nossos atuais juízes que apequenaram o STF. Rebaixando-o ao mesmo nível do Congresso.
O corporativismo é uma doença tanto quanto a corrupção. Depois do julgamento, o bloguista Josias de Souza editou um vídeo com as falas dos ministros lá trás quando o alvo era Eduardo Cunha, e agora que o alvo foi Aécio Neves. Em pouquíssimo tempo, nossos juízes jogarem suas convicções no lixo em troca de convicções novas.
Vou repetir o que já escrevi num passado recente. Perigosamente estamos colocando governabilidade, economia, crescimento e corrupção num mesmo patamar. Diante da possibilidade de interpretações, nossos juízes abrem precedentes para quem “é corrupto mas faz”. Alguns. Outros não podem. E ainda vem a revisão da segunda instância.
A sociedade sentindo-se órfã politicamente, via no STF o seu último baluarte de esperança. Ele desmoronou como um castelo de cartas assoprado por um juridiquês que já deixou de colar. É um idioma sem nenhuma convicção.