Efeito Pantaleão
O lobo perde o pelo mas não perde o vício, diz o ditado muito antigo, lá dos tempos do Onça. Assim acontece com uma boa parcela dos políticos brasileiros. Fazem e desfazem, se envolvem em tudo quanto é maracutaia e depois aparecem com aquele semblante contrito de frei franciscano e expressão de inconformismo no olhar, contando suas versões mentirosas de sempre. Jogam imediatamente a culpa nos delatores pela situação vexatória a que são submetidos, tentando desacreditar os que se dispuseram a colaborar com a justiça. Se fazem acompanhar de uma extensa comitiva de advogados renomados e seus honorários extorsivos, perfeitamente modulados ao timbre da relevância da causa defendida. Sapateiam e rodopiam tentando justificar o que a opinião pública já está careca de saber: poucos são realmente inocentes dos supostos crimes a eles atribuídos. Aliás, pouquíssimos deles são acusados de um só crime. Sobre a maioria pesam as mais diferentes suspeitas, algumas escancaradamente comprovadas por volumosas caixas e malas contendo dinheiro vivinho da silva.
Nesse caldo pestilento de corrupção se observa um comportamento padrão a todos os brindados com a condição de réu em alguma ação penal: a mentira. Mentem sem constrangimento algum, a ponto de quase ludibriar os incautos, vez ou outra enternecidos com uma atuação convincente, beirando o profissionalismo teatral. Mentem diante do magistrado, em alguma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) qualquer, nas coletivas aos órgãos de imprensa, enfim, incorporam de vez o mau costume do boneco Pinóquio. Existe uma leva de políticos mentirosos contumazes, que de tanto faltar com a verdade, um dia passam a acreditar em sua própria mentira.
No rol dos mentirosos notórios se destaca o atual chefe do executivo federal. Todo empertigado do alto da tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU), Michel Temer tentou ser convincente com a comunidade internacional. Para tanto, mentiu desavergonhadamente garantindo que o desmatamento na Amazônia está controlado e até foi reduzido. Não perdeu a pose nem mesmo quando contou a lorota de que seu governo promove reformas ultraliberais, que está resgatando o equilíbrio fiscal, que o desemprego arrefeceu e o País retomou o crescimento econômico, pintando um cenário absolutamente oposto à atual realidade brasileira. Outro mestre, com pós-graduação e doutorado em simular esse tipo de situação é o ex-presidente Lula. O falastrão da “marolinha” se notabilizou nessa arte durante seus oito anos no Palácio do Planalto e agora resolveu partir para a detratação sistemática de seus acusadores (que não são poucos), uma retórica mentirosa bem conhecida, utilizada para lembrar reiteradamente que a honra da “viva alma mais honesta desse País” não pode ser maculada jamais e não é nada improvável que num futuro distante, o mentiroso “pai dos pobres” seja canonizado pela “grandiosidade” de seu legado, segundo suas próprias palavras, direcionado para contemplar os menos privilegiados na vida.
De mentiras em mentiras o povo vai se lascando todo. Nossa Carta Magna garante a todos indistintamente, igualdade de direitos, “pero no mucho”. Tem também a mentira dos índices oficiais da inflação e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a da reforma da Previdência, a da reforma política e outras correlatas; mas a maior de todas parece ser a das verdadeiras intenções de nossos políticos, vide a briga de foice no escuro pela divisão equitativa do milionário e indecoroso Fundo Partidário, mantido a expensas do contribuinte. Nem o paroleiro Pantaleão e seu talentoso criador Chico Anysio suportariam tantas mentiras, se por aqui ainda estivessem a nos proporcionar momentos de descontração. E dá-lhe óleo de peroba.