A FORÇA DE UM JULGADOR ENDEUSADO TORNA A LEI MERO ACESSÓRIO
Quem se lembra da fábula de La Fontaine - O LOBO E O CORDEIRO?
Vale reproduzi-la:
"O cordeirinho, tranquilo, bebia água num córrego. Aí lhe apareceu um lobo, sedento de água e de sangue, exigindo o "seu" direito de proprietário de tudo.
- Seu desaforado, você está turvando a minha água!... - Disse o lobo, ameaçando castigar o cordeirinho.
- Como estou turvando sua água, se ela corre do senhor para mim?
O lobo se atrapalha com a lógica da resposta do cordeirinho, mas não dá o rabo a torcer.
- Tá bom, mas vou castigá-lo porque eu soube que você andou falando mal de mim no ano passado! - Inventou o lobo, já lambendo os beiços.
- Mas seu lobo, como que eu poderia falar mal do senhor no ano passado, se nasci este ano?!...
- Então, seu cordeirinho medroso, se não foi você foi o seu irmão mais velho! - Retrucou o lobo.
- Mas seu lobo, como pode ter sido meu irmão mais velho se sou filho único?!
O lobo, cada vez mais atrapalhado, mas faminto e furioso, vendo que não encontrava razões claras para vencer o cordeirinho, atacou, finalmente, com a violência que vinha acumulando no peito desde o início da conversa:
- Ora, seu cordeirinho trouxa, se não foi você nem seu irmão, foi o seu pai, ou sua mãe, ou seu avô, ou sua avó, ou seu...
E - nhoc! - estraçalhou, comeu a carne e bebeu o sangue do inerme cordeirinho, conforme, desde há muito, pretendia.
.................................................................................................. (Fábula extraída do artigo "O Direito à deriva, o IN-esperado", publicado por Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes Bahia - Mestre e Doutor em Direito pela UFMG -, Diogo Bacha e Silva - Doutorando em Direito pela UFRJ - e Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira - Professor de Direito Constitucional da UFMG - no livro "Comentários a uma sentença anunciada" - 103 juristas/comentaristas - Canal 6 editora - edição 2017 - Bauru, SP).
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Segue, a propósito, o comentário feito a 00H49 de hoje, pelo autor, no texto poético "Sr. Juiz" (T6115412), de Charles Alexandre:
Quem se lembra da fábula de La Fontaine - O LOBO E O CORDEIRO?
Vale reproduzi-la:
"O cordeirinho, tranquilo, bebia água num córrego. Aí lhe apareceu um lobo, sedento de água e de sangue, exigindo o "seu" direito de proprietário de tudo.
- Seu desaforado, você está turvando a minha água!... - Disse o lobo, ameaçando castigar o cordeirinho.
- Como estou turvando sua água, se ela corre do senhor para mim?
O lobo se atrapalha com a lógica da resposta do cordeirinho, mas não dá o rabo a torcer.
- Tá bom, mas vou castigá-lo porque eu soube que você andou falando mal de mim no ano passado! - Inventou o lobo, já lambendo os beiços.
- Mas seu lobo, como que eu poderia falar mal do senhor no ano passado, se nasci este ano?!...
- Então, seu cordeirinho medroso, se não foi você foi o seu irmão mais velho! - Retrucou o lobo.
- Mas seu lobo, como pode ter sido meu irmão mais velho se sou filho único?!
O lobo, cada vez mais atrapalhado, mas faminto e furioso, vendo que não encontrava razões claras para vencer o cordeirinho, atacou, finalmente, com a violência que vinha acumulando no peito desde o início da conversa:
- Ora, seu cordeirinho trouxa, se não foi você nem seu irmão, foi o seu pai, ou sua mãe, ou seu avô, ou sua avó, ou seu...
E - nhoc! - estraçalhou, comeu a carne e bebeu o sangue do inerme cordeirinho, conforme, desde há muito, pretendia.
.................................................................................................. (Fábula extraída do artigo "O Direito à deriva, o IN-esperado", publicado por Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes Bahia - Mestre e Doutor em Direito pela UFMG -, Diogo Bacha e Silva - Doutorando em Direito pela UFRJ - e Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira - Professor de Direito Constitucional da UFMG - no livro "Comentários a uma sentença anunciada" - 103 juristas/comentaristas - Canal 6 editora - edição 2017 - Bauru, SP).
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Segue, a propósito, o comentário feito a 00H49 de hoje, pelo autor, no texto poético "Sr. Juiz" (T6115412), de Charles Alexandre:
"Sob as rimas e frases de efeito, jaz a irracionalidade do preconceito. Teus versos traduzem a essência dos maus julgadores. A "justiça" (assim mesmo, com "j" minúsculo) que condena um indivíduo só porque ele está sendo acusado, dispensando ou não exigindo as provas legais do delito, não merece ser escrita com "J" maiúsculo. O senso crítico deixa muito clara a repetição da fábula de La Fontaine: "O lobo e o cordeiro". A qualquer momento, sem mais argumento, a força odiosa do lobo, ou da pseudo-justiça, devorará o inerme cordeiro, que (o lobo até se lamenta) não foi pego com malas ou salas cheias de dinheiro. ... Não tenho dúvida de que a extrema direita, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, sempre agiu assim como o lobo da fábula: torturando, martirizando os Tiradentes, e deixando livres e milionários os servis delatores, a exemplo de Joaquim Silvério dos Reis (de nossa triste história). Nenhum delator, até agora, teve mais de dois anos de prisão, cumpridos no conforto de suas ricas mansões. É quando o crime compensa. É só roubar, ficar rico e, na hora "H", delatar... Enquanto isso, o lobo da fábula vai ceifando impunemente a Constituição, as Leis, o Direito Penal, a Moral, a Verdade e a Vida de suas vítimas. E os tolos, boquiabertos, encantados pelo som do berrante desse lobo, caminham cegamente em direção ao seu próprio abate, embevecidos pelos elegantes, luxuosos e dissimulados matadouros que lhes mostram a mídia. Os que deveriam estar presos estão soltos, e só os tolos batem palmas. ... Procuram-se, pois, mais cordeiros para aplacar a sede de sangue de um lobo endeusado, venerado e enfurecido".