O adeus a Janot
Rodrigo Janot deixará a Procuradoria-Geral da República em meados deste mês. Decidiu não concorrer a um terceiro mandato. Como qualquer mortal deste pobre país, sabe que nem de longe teria o aval do atual presidente e sua turba, cabendo à procuradora Raquel Dodge substituí-lo nos seus embates jurídicos. Temerária como os seus, ela logo mostrará a que veio. Afinal, apaniguada do palácio do planalto, há de ser afinada com os seus devaneios e cúmplice de seus propósitos.
Como se vê, contar com imenso apoio popular não basta para que um Procurador do bem fique e continue a disparar suas flechas. Para prosseguir, teria de contar com o apoio dos próprios investigados, o que não deixa de ser uma grande ironia neste país de faz de conta. A intenção, mais que escancarada, é pôr um ponto final nas atividades da Operação Lava-Jato e deixar impunes políticos e empresários atolados até o pescoço na lama da corrupção e desvio de rendas públicas.
A derrocada da Lava-Jato parece irreversível diante da entrada em cena de novos atores, já com seus “scripts” decorados à exaustão, tudo acertado a portas fechadas e pelas madrugadas da vida, longe dos olhares censores de uma população descrente e envergonhada de seus políticos. A atuação de nossas autoridades judiciais de maior envergadura, a tomada de decisões tresloucadas de parte do palácio e as deliberações sorrateiras no congresso, transformando vinho do bom em água fétida, parece indicar a existência de um triunvirato do mal para amargar a vida de todos os brasileiros.
É por isso que as pessoas que trazem valores dentro de si e desejam legar bons exemplos às gerações vindouras louvam o juiz Sérgio Moro e seus colaboradores. Quando tudo indica que é chegada a hora de parar, ele segue avante como o herói isolado, com seus poucos combatentes, empunhando a espada, não por obstinação, mas pela consciência do dever. Por sua vez, Rodrigo Janot sai de cena com o reconhecimento de ter dado o melhor de si, como o soldado que tomba no seu afã patriótico.