As ideologias não se confundem com boa gestão nem com bom mocismo
As ideologias não se confundem com boa gestão nem com bom mocismo...
Publicado no blog Diário do Poder de Brasília, DF, de 14/08/2017
Entre outros modismos da politica atual ressaltam a exaltação da boa gestão e a aparência dos políticos: o politico adequado é aquele que oferece uma eficiente gestão e tenha uma boa imagem. A visão do futuro da história que estamos a construir, bem como a forma de organização e de funcionamento da sociedade que estamos moldando, acreditando nos pressupostos éticos da democracia, da liberdade, da justiça, da sacralidade da vida, da preservação ambiental e do humanismo, parece não serem mais considerados como prioridades do pensar e da ação política.
As poucas ideologias politicas consistentes, que ainda sobrevivem, surgiram na segunda metade do sec. XIX e foram ou se aperfeiçoando com adaptações de suas propostas à evolução social, ou persistem na ortodoxia original e estão estagnadas. Num e noutro caso, cada vez mais os povos estão se afastando de ideias e pressupostos filosóficos e abraçam o pragmatismo, que tem muito mais a ver com resultados imediatos do que com os sonhos de, progressivamente, construir sociedades justas e livres, mais humanas.
Três correntes politicas maiores se apresentam aos povos, como propostas para garantir progresso, segurança e felicidade aos cidadãos e cidadãs vivendo em sociedades: o capitalismo, privilegiando a liberdade na orientação das decisões econômicas, politicas e sociais, sinalizadas pelo mercado; o marxismo, privilegiando o disciplinado coletivo estatizado, interpretando suas prioridades pela liderança do partido único; e a social democracia que procura assegurar a liberdade pessoal e a do mercado, garantindo a proeminência das iniciativas sociais, sem recorrer à imposição de suas propostas de trabalho, nem deixar que o mercado livre imponha suas decisões automáticas sem a supervisão do Estado, responsável pelo bem comum.
Estas ideologias obrigam, sempre, a elaboração de projetos institucionais, econômicos e sociais adequados à sua visão do mundo, e são levados à execução por pessoas pressupostamente competentes, capazes de uma boa e honesta gestão. Os detentores do poder politico, conquistado segundo as normas que orientam as práticas democráticas, apontam as prioridades para que a sociedade e o Estado possam se organizar para alcança-las de forma competente.
Boa gestão, competência e honesta elegância no proceder, dignidade, são os instrumentos de trabalho e os requisitos morais mínimos exigidos de todos os servidores públicos, quaisquer que sejam os governos a que servem. Não são objetivos de um partido político.
Eurico de Andrade Neves Borba, 76, escritor, aposentado, ex-professor e Vice Reitor da PUC RIO, ex-Presidente do IBGE, mora em Caxias do Sul.