A tal República de Curitiba nos dá, seguidamente, demonstrações de uma justiça pautada pelo exibicionismo, pelo desejo de vingança e pela ânsia de polêmicas que a mantenha na mídia por período indeterminado. Decisões brutais, motivadas por procuradores e chanceladas por um juiz, já despertam desconfiança, estupefação e medo em boa parte de todos nós. Raramente, encontram freios para exageros confessos. Quando sentimos medo, nós o sentimos pelas lembranças mórbidas dos momentos em que vivemos um estado policial. Quando começou tudo isso, havia comemorações sádicas por cada humilhado que desfilava com algemas e sob a escolta de um japonês na tela da TV, agora só restou uma sensação que nos incomoda.
 
Todo o espetáculo que se arrasta pelos últimos anos, que colaborou com a nossa bancarrota, indicando o paradoxo que gerou o combate a corrupção, me remeteu a uma antiga reflexão. Para que servem os concursos públicos? Peneiram candidatos e pescam os mais bem adestrados às regras e condições de um edital. Atualmente, são rigorosos, exigem dedicação, tempo e dinheiro. Mas quem os concursos realmente selecionam? Os aprovados são aqueles que se sujeitam a uma disciplina espartana de estudos, que possuem uma inteligência mecânica e contam com boa memória, sem falar numa condição financeira que permita o suporte de coachings especializados. É uma maratona que não avalia a vocação, o caráter, que não se aprofunda no equilíbrio mental do candidato nem exige amor pelo serviço público. Algumas provas pedem conhecimento sobre tipos de ética, mas conhecimento não significa a prática cotidiana da ética.
 
Ao observarmos o que emerge em Curitiba e em tantos outros pontos do país, se torna óbvia a necessidade de reavaliar a metodologia dos concursos. No Judiciário, por exemplo, o que vemos é um desfile de figuras obsessivas, vaidosas, muitas vezes desconectadas da realidade e com senso de humanismo profundamente deficitário. Alcançam os cargos que ocupam por mérito burocrático, não por pendor e potencial humano.

 
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 20/07/2017
Reeditado em 20/07/2017
Código do texto: T6059719
Classificação de conteúdo: seguro