A mudança que não deu certo
A ditadura teve à sua disposição todos os meios necessários para a aceleração do crescimento do país. Porque contou com um poder absoluto em substituição ao regime democrático que removeu por meio de golpe. Não precisou respeitar o Congresso, o STF e outros organismos constitucionais garantidores de uma nação livre. Apesar disso, não conseguiu resolver nossos problemas cruciais, como a fome, o analfabetismo, o desemprego, a habitação e a melhoria da qualidade de vida da população.
Lula, através do PT, teve também os meios necessários à implementação do desenvolvimento, porque contou com a confiança do povo. Que queria mudança, cansado do oportunismo e do fisiologismo de uma direita acostumada à preservação de seus tradicionais interesses e garantias excepcionais, todos previstos em lei.
Os resultados iniciais de Lula e seu governo petista foram promissores, com a redução da inflação, a valorização da moeda nacional, melhores índices do PIB e maior projeção do país no cenário internacional. Só que muito provavelmente com o advento do Mensalão, que Lula à época decidiu ignorar ou nos fazer crer que de nada sabia, instituiu-se no país – ou veio à tona – a sistematização de uma corrupção que se propagou pelos principais órgãos do governo – Petrobrás, BNDES, Caixa Econômica Federal, etc. –, sempre com o envolvimento de políticos com cargos no governo ou fora dele, pertencentes a partidos vinculados à direita e ao próprio PT.
O resultado disso foi que, tal como a ditadura, Lula e o PT não conseguiram favorecer o engrandecimento do país a partir da minoração de seus problemas principais. Que continuam não resolvidos. Muito pouco, por exemplo, foi realizado em termos de Reforma Agrária, cuja situação hoje deve lembrar o início da ditadura, em 64, quando falar em Reforma Agrária significava ser enquadrado como subversivo. Políticos conhecidos continuam sendo proprietários de grandes áreas improdutivas pelo interior do país.
Esse resultado de questionável expressividade dos governos petistas certamente pode ser creditado à aproximação de suas lideranças, incluindo-se Lula, ao oportunismo e fisiologismo característicos dos partidos à direita, notadamente o PMDB. O que permitiu ao PT o imperdoável "link" com caciques como Sarney, Temer, Édison Lobão e com nomes como Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Paulo Maluf, Delcidio do Amaral, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros, no intuito da preservação do poder, em detrimento de um governo que priorizasse as soluções de interesse do povo. Coisa em que a direita tradicionalmente não pensa ou, pelo menos, não o faz em primeiro lugar.
Rio, 05/07/2017