Escrevendo com a necessária clareza.
ESCREVENDO COM A NECESSÁRIA CLAREZA
Publicado no jornal O PIONEIRO de Caxias do Sul de 28/06/17
Há algum tempo penso em escrever este artigo. No entanto, o receio de não ser compreendido e a forte possibilidade de parecer um ridículo dono da verdade, me levaram a postergar a escrita e a divulgação.
O que me apavora neste nosso destroçado Brasil é que atitudes e pensamentos óbvios não são sequer considerados pelas elites, pela mídia, pelos detentores do poder. As elites, intelectual e moralmente pobres, de onde se poderia esperar uma reação ao desatino coletivo, parece gostar do que está acontecendo, estendendo suas teias de poder e de suas possibilidades de lucros.
Que o Presidente Temer e o Senador Aécio devem renunciar, que os parlamentares e autoridades do Poder Executivo indiciados pela justiça devem se licenciar para facilitar as apurações, que as eleições devem ser antecipadas para melhorar o nível de legitimidade do Estado brasileiro, atualmente em frangalhos, é o “obvio ululante”, como diria Nelson Rodrigues. Basta prestar honesta e inteligente atenção para o que o povo está dizendo, com irritação crescente, nas filas, nos transportes coletivos, nos encontros, nas redes sociais, onde de forma espontânea, sem análises sofisticadas, expressam o que pensam e sentem: nojo e repulsa pelos políticos, descrença nas instituições democráticas, com muita raiva beirando o ódio.
Sem a confiança da maioria da população nas instituições republicanas, democráticas, nada de bom e de duradouro poderá ser edificado.
Estamos perigosamente próximos de uma confrontação física, que poderá ser entendida como um basta radical do povo à situação amoral e anárquica que tomou conta do país. Não há possibilidades de demagógicos acordos para garantir a governabilidade, pois esta já não existe. Os proponentes e participantes ou estão envolvidos nas falcatruas, ou quase todos não merecem mais a confiança do povo. Estes atores desacreditados precisam se convencer que devem sumir de cena, para não irritar mais a população, com o deboche das suas presenças. O povo quer, exige, caras novas honestas e competentes.
Quando a ira do povo explodir nas ruas, por falta de alternativa para a demonstração do seu desagrado, o que vai se fazer? Chamar as forças armadas para conter a população? Esperar que as Igrejas restaurem a paz social com seus apelos que não ecoam mais numa sociedade afastada das religiões?
São 14 milhões de desempregados, um sistema econômico que não investe, sem sinais consistentes e honestos de recuperação. Que o bando dirigente entenda que a antecipação, urgente, das eleições é a única saída politica possível e aceitável para a restauração da legitimidade do poder republicano. O contrário será o caos.
Eurico de Andrade Neves Borba, 76, aposentado, escritor, ex professor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Caxias do Sul, RS.