As chances de Lula
Nacib Hetti
Injeção que dói você tem que tomar logo. Se o Lula tem chance de voltar algum dia, que seja logo. O PT está se articulando para apoiar um nome para uma eventual eleição direta já. Se depender de sugestão, que seja o próprio Lula. Neste meio tempo vamos voltar nossas preocupações para o futuro governante a ser eleito em 2018. Pelo histórico dos dois mandatos, Lula pode ser uma boa opção imediata para muita gente. Ele foi e pode ser ótimo para o sistema financeiro, sempre privilegiado nos seus oito anos de governo, tendo como gestor o Meirelles, homem da banca. Nas suas palestras “off shore” o então presidente teve como objetivo, como relatado por ele próprio, atrair o capital internacional.
Lula será bom para os cartéis de sempre que, em grupo com as grandes corporações, voltarão para compor o seu bem bolado Conselhão. Certamente será bom para o agronegócio, com juros subsidiados e com liberdade para sua expansão territorial. Durante oito anos o movimento dos “sem-terra” foi contido pelo governo “esquerdista” do PT, e a reforma agrária prometida continuará nas calendas gregas. Lula almoça com Stédile e janta com Mares Guia. Isto é bom para o sistema. Mantém a esquerda no bridão e prestigia o capital. Pode ser bom, também, para as empreiteiras arrependidas pelo acordo de leniência e para aquelas que escaparam da Lava Jato, com o BNDES aberto para os amigos de sempre.
O lulismo, como inegável fenômeno populista, tem sustentação na camada menos informada politicamente. Para o seu eleitor não importa a agremiação política do candidato e sim o apelo popular que representa. Somente uma medida de caráter judicial, como a prisão do líder, poderia abalar as suas bases populistas, mesmo sabendo que grande parcela deste seguimento tenderá a considerar Lula como um injustiçado. Bom para as elites, ele tem o dom de segurar os carentes, engambelados pela Bolsa Família. Finge que distribui renda e acomoda uma classe que não se rebela e se constitui em reserva de mercado eleitoral para o PT.
Lula pode ser bom para a “democracia” bolivariana, com apoio político para governos populistas e que se perpetuam na demagogia e na miséria do povo. Ainda na área internacional, Lula pode ser bom para os Estados Unidos. Juntamente com o seu companheiro Maduro conseguiu desagregar o continente sul-americano. O Mercosul está politicamente falido, abrindo espaço para que outros países da região saíssem com acordos bilaterais com os americanos do norte.
Lula é bom para os partidos de direita. Políticos do PP, PL e PTB, base de apoio do seu governo, serão contemplados com cargos e outros mimos, votando como seu chefe mandar e cobrando a conta em seguida. Lula é ótimo para o PMDB do qual sempre dependeu, com um apoio espúrio e pragmático. O partido do saudoso Ulisses Guimarães trocará votos por ministérios, diretorias de bancos estatais e altos cargos na administração federal. Temer foi uma imposição do Lula que Dilma não queria.
Lula é bom para os pelegos, de gravata e de macacão. Os trabalhadores sindicalizados pensam que estão no governo e seus dirigentes vivem, com a contribuição sindical compulsória, nas tetas da nação. Restaria para nós a ilusão que a corrupção não terá mais espaço, sendo mais vigiada pela imprensa investigativa e pelo Ministério Público. De qualquer maneira é bom manter um pé atrás, sem tornozeleira.