Paradoxos da política brasileira

PARADOXOS DA POLÍTICA BRASILEIRA
Miguel Carqueija



Cada vez mais a política brasileira parece um circo cheio de maus palhaços, cada um mais sem graça que o outro. Entretanto, há um detalhe que parece ter sido pouco reparado até agora: fatos paradoxais. Como se sabe, paradoxo é uma afirmação ou uma situação que a si mesma se desmente. Exemplo clássico é a frese “Tudo o que eu falo é mentira.” Paradoxo total, pois então a própria frase é mentirosa e então expressa a verdade. Outra frase paradoxal é esta: “É proibido proibir.” Mas como pode ser proibido proibir, se proibir é proibido?
O PSDB, partido do tucanato, parece ter caído num desses paradoxos ou impasses da lógica. Atualmente o TSE está julgando processo de cassação da chapa Dilma/Temer, ou seja o processo eleitoral de 2014, que já se sabe estar recheado de corrupção. Quem deu entrada com o processo foi o PSDB, anos atrás, e ele continua no assunto; até advogado do PSDB foi mobilizado agora, para participar do julgamento.
O paradoxo é que o PSDB aceitou tomar parte do governo Temer, ocupando vários ministérios. Até um dos seus caciques, José Serra, andou ocupando um ministério.
Como é que o PSDB quer cassar um governo do qual ele faz parte? Freud explica? E o Temer, como é que coloca gente do PSDB em seu governo, sabendo que esse partido luta para tirá-lo do governo? Será que o Temer gosta de dormir com o inimigo?
Outro paradoxo; inconformados com o afastamento de Dilma Rousseff, a quem chamam de “presidenta”, os petistas passaram a espalhar pelos quatro ventos que houve golpe e que Temer é um golpista (ele nem participou do processo de impedimento, não era coisa de sua alçada; é um oportunista, politiqueiro, demagogo, mas não um golpista). Ora bem, sabemos que não houve golpe, pois tudo seguiu o trâmite constitucional, fato reconhecido até pela Dilma quando se defendeu no Senado (foi seu argumento, que haveria golpe se ela fosse tirada sem crime de responsabilidade; ora bem, houve crimes de responsabilidade e o atual processo no TSE aponta mais um...). Por outro lado, em 1993 houve o afastamento de Fernando Collor de Mello através de processo análogo. Na ocasião o PT participou ativamente desse impedimento. Aliás o vice Itamar Franco não foi chamado de golpista por ninguém, nem mesmo pelos petistas.
Se pois o afastamento de Dilma foi golpe a conclusão lógica é que o PT é um partido de golpistas, tendo em vista a sua decidida participação no impedimento de Collor em 1993.
Eles simplesmente evitam tocar no assunto.
E agora, nesse julgamento que está polarizando a opinião pública e a mídia? Agora, 13.38 de 9/6/2017, que eu saiba ainda não houve sentença. Vejo os irmãos petistas envolvidos por um terrível dilema que faz lembrar o paradoxo científico do gato dentro da caixa. Um cientista imaginou esta situação: coloca-se um gato preso numa caixa com material venenoso que pode ou não ser liberado lá dentro (calma, isso é simples hipótese, o gato é fictício portanto não houve crueldade). A possibilidade de que o gás venenoso tenha escapado dentro da caixa é de 50 por cento, idem de que não tenha escapado. Concluiu o tal cientista (que por sinal devia ter um parafuso frouxo) que enquanto a caixa não fosse aberta, pelo princípio da incerteza o gato estava ao mesmo tempo vivo e morto.
Esse parece ser o paradoxo que no momento atormenta os petistas! Por um lado eles têm que ser favoráveis à condenação da chapa Dilma/Temer pois dessa forma o Temer, a quem atualmente eles abominam embora tenham votado nele, deverá ser afastado. Por outro lado os petistas têm que ser pela absolvição, pois se a chapa for condenada e a eleição de 2014 anulada, Dilma perderá seus direitos políticos por oito anos e estará condenada por graves irregularidades na campanha eleitoral do PT!
Talvez seja por isso que eu, pelo menos, não vi na mídia uma única manifestação do PT que defina uma posição. Posso estar enganado, pois não vejo tudo, mas me parece que eles estão preferindo ficar na moita já que ninguém gosta de ser envolvido num paradoxo...
Ah, sim: eu próprio (um conservador) sou a favor da cassação da chapa.

Rio de Janeiro, 9 de junho de 2017.