No dia 29 de maio de 2017, o prefeito Crivella anuncia o tombamento dos táxis do Rio, passam a ser patrimônio cultural da cidade e suas características essenciais não podem ser alteradas. Viram uma espécie de bondinho de Santa Teresa. Ao mesmo tempo em que anuncia o tombamento, promove o lançamento de um novo aplicativo elaborado pela prefeitura e que será de uso exclusivo dos taxistas do município: o Táxi.Rio. Nos mesmos moldes de aplicativos como o Uber, o novo projeto vem como a luz no fim do túnel, segundo o Sindicato dos Taxistas. Entre festejos e desconfiança, existe um fato que parece óbvio. Ao concentrar as informações de todos os táxis da cidade num único banco de dados, incluindo trajetos e cobranças, fica quase óbvio que pretendem privatizar a gerência dos táxis, que hoje é pública. Ou seja, lançam um aplicativo para depois terceirizá-lo à administração de alguma empresa privada. A verdade é que o transporte individual é o novo filão para enriquecimento fácil, o Uber chegou para revelar isso. Transformaram uma profissão autônoma numa caça ao tesouro por oportunistas acobertados pelo Judiciário. A prefeitura entendeu isso e agora cria uma ferramenta que não a deixe de fora da nova fonte de arrecadação, a diferença é que ela recolherá os dividendos de alguma empresa para a qual deverá entregar a gestão do sistema. Para que lutar contra o inevitável se podem ter lucro copiando o que já está aí?

O próprio tombamento dos táxis como patrimônio cultural soa como um reconhecimento do seu risco iminente de extinção e como sinal de que tombam para que a iniciativa privada mantenha, ao menos, suas características externas. Infelizmente, o que o próprio Uber ensinou, é que a gestão privada de serviços públicos consegue ser pior do que a própria gestão pública. A única ação eficiente seria uma prefeitura que lutasse por impor regras aos aplicativos que já existem ou qualquer iniciativa será inútil.

Como os taxistas cariocas carecem de um sindicato eficiente, como são uma massa disforme e desorientada em busca de salvação, é fácil para a prefeitura reunir um pequeno número de representantes da classe, acender os holofotes e convencê-los de que está protegendo a categoria. Não, na verdade, os motoristas de táxi estão prestes a se transformarem em objetos de exploração, cada taxista é uma mina de ouro já explorada por empresas como a 99, agora serão explorados por alguma outra empresa privada que irá se associar à prefeitura (o derradeiro reduto de esperança para os taxistas) e que estará babando de fome para ter a exclusividade de 33 mil prestadores de serviço ao seu dispor.

A ingenuidade da classe, somada a honestidade de seus escassos representantes, não se dá conta da armadilha pronta. Aceitam, sorriem e reverenciam o prefeito. O trio Crivella Índio da Costa e Mac Dowell confraterniza com todos. Na sala ao lado, os açougueiros afiam as facas, um novo banquete está prestes a ser servido e o melhor é que o gado esteja feliz e contente diante das boas promessas, assim a carne fica mais macia após o abate.
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 30/05/2017
Reeditado em 30/05/2017
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