Em abril de 1924, o caricato e desordeiro líder do recém fundado partido nazista, Adolf Hitler, era julgado em um tribunal na cidade de Munique, Alemanha, por tentar dar um golpe de estado contra o governo da Baviera, cerca de seis meses antes. Hitler seria condenado a cinco anos de prisão, dos quais cumpriu nove meses em regime fechado, tempo que aproveitou muito bem para escrever o mais virulento e asqueroso tratado político de todos os tempos, que foi o Mein Kampf (Minha Luta).
Hitler era um político extremamente competente. Essa é uma qualidade que ninguém poderia lhe negar. Aproveitou seu julgamento para transformar-se em herói nacional e cerca de oito anos depois assumia a chefia do governo alemão, com poderes suficientes para aplicar as ideias que levariam o planeta á sua maior catástrofe até então, que foi a segunda guerra mundial.
A política tem disso. Megalomaníacos e psicopatas tem muito mais chances de se dar bem nessa profissão do que indivíduos movidos pela lógica comum do cidadão mediano. Isso porque eles têm uma ideia fixa e na consecução dos seus planos febris não há razão ética, nem moral, que os detenha.
E como eles são sedutores! Hitler, ao ser interpelado pelos juízes do tribunal que o condenou pelo ridículo e fracassado golpe da cervejaria, disse que não se considerava culpado de nada, que faria tudo outra vez e profetizou que logo o povo alemão estaria aplaudindo e compartilhando suas ideias. E disse, em alto e bom tom, que todos aqueles que o estavam condenando naquele momento iriam pagar caro por aquelas atitudes.
Nenhum profeta bíblico acertou mais que ele em suas previsões. Cerca de dez anos depois todos os seus antigos algozes estavam mortos ou trancados em campos de concentração.
Aqueles que se esquecem do passado estão condenados a repeti-lo, disse Edmund Burke, mas aqueles que se recusam a esquecê-lo, estão condenados a viver nele para sempre, completou Emily Thorne. Os dois estão certos. E essa é uma boa reflexão para os brasileiros fazerem neste momento. É só pensar no que o Lula disse em relação á todos aqueles que o estão acusando agora. Meia palavra basta para quem sabe ler. Me aguardem. Eu voltarei e quem irá para a cadeia serão vocês.
A política é a mais ingrata e incerta das profissões. Isso porque quem a alimenta é o povo. E o povo é uma massa informe, difusa e maleável, que sempre toma a forma que as mãos do oleiro mais competente lhe dá. Na Atenas do século V a C. o povo que inventou a democracia, comemorou o banimento de um tirano porque ele intentou dar um golpe de estado para tomar o poder absoluto para si. Três anos depois, ele voltou e o próprio povo que apoiou sua expulsão, entregou-lhe, alegremente, o poder. E assistiu, feliz, ás execuções dos líderes que haviam promovido o banimento do tirano.
Lembrei-me de tudo isso ao ler as pesquisas de intenção de voto publicadas pelo Data Folha. O primeiro lugar é do Lula e o segundo é do Bolsonaro. O primeiro quer voltar nos braços do povo e promete se vingar dos seus desafetos. O segundo se acha o general que alguns estão procurando. Entre a cruz e a espada, fiquei sem saber se é melhor esquecer o passado e repeti-lo, ou recusar-me a esquecê-lo e me conformar em viver sempre nele.