A Grécia e a saída do Euro

A criação do Euro como moeda única partiu de um projeto monetarista comum, mas que não previu plano de contingência para um país abandonar a moeda comum e reintroduzir sua moeda nacional. A saída da Grécia da zona do Euro pode tornar-se um estudo de caso, por mostrar como todos os atores ajudaram no desastre:

1) A União Europeia aceitou a Grécia na zona do Euro sem verificar adequadamente que a dívida pública e o déficit fiscal estavam acima do limite estabelecido pelo tratado de Maastricht;

2) O governo da Grécia maquiou suas contas para conseguir aderir ao Euro;

3) A oposição ao governo não fiscalizou ou denunciou a real situação econômica da Grécia, assim como o presidente do país (que ficou sem poderes após a reforma constitucional de 1986);

4) Os juros abaixaram de 8% para 1% a 2%, após a entrada na zona do Euro, e os bancos emprestaram muito dinheiro sem muito rigor e sem muitas garantias;

5) Parte da população conseguiu empréstimos acima da sua capacidade de pagamento;

6) O desvio de dinheiro e a corrupção no governo, entre outros motivos por causa da Olimpíada de Atenas, não resultaram em prisão de políticos ou congelamento de contas na Suíça e em outros paraísos fiscais para repatriamento do dinheiro;

7) Há falta de reformas estruturais no país como, por exemplo, o aumento da idade para aposentadoria e do valor de contribuição para reduzir o déficit previdenciário, assim como privatizações de alguns setores da economia;

8) Os sucessivos cortes nas aposentadorias e nos salários durante a profunda recessão não atingiram a elite burocrática do funcionalismo público aumentando ainda mais a revolta da população;

9) A troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e União Europeia) está mantendo um programa de austeridade com profunda recessão sem oferecer financiamento para estimular o crescimento econômico, por exemplo, com o aumento do papel do Banco Europeu de Investimento e o uso de fundos da União Europeia para infraestrutura;

10) A grande mídia internacional cobriu a crise da Grécia, durante muitos anos, apenas do ponto de vista econômico sem a dimensão política e social. A depressão econômica é o desenlace final da tragédia grega. Manter as medidas de austeridade fiscal é destruir a democracia grega. A saída do Euro e a volta do dracma, como moeda nacional, é a única opção da Grécia.