GREVE GERAL DO DIA 28 DE ABRIL
A Greve Geral de 28 de abril de 2017 ocorre 100 anos depois da primeira Greve Geral no Brasil. A Greve Geral de 1917 foi deflagrada pela classe trabalhadora organizada para que os trabalhadores conquistassem boa parte dos direitos trabalhistas que agora estão sendo revogados pelo governo Temer e o Congresso Nacional formado por corruptos, fundamentalistas e fascistas em sua maioria.
A CSP-CONLUTAS, que desde o início tem levantado a bandeira da necessidade de uma greve geral no Brasil para derrotar as reformas neoliberais do governo do PMDB, fez em sua campanha um resgate do histórico de greves gerais da classe trabalhadora brasileira. Em 1917 a paralisação durou 31 dias e os estados mais afetados foram São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mas foi na década de 1980 o auge do movimento grevista brasileiro, contando com três greves gerais, em 1983, 1986 e 1989. A Greve Geral de 1989 foi de 48 horas, em 14 e 15 de março, e era a maior greve geral da nossa história até hoje, com a paralisação de 35 milhões de trabalhadores de suas atividades. Na década de 1990 ocorreram mais duas greves gerais, uma de 48 horas em 1991, nos dias 22 e 23 de maio, e uma greve geral em 1996 no dia 21 de junho.
Segundo o site do jornal Brasil de Fato, a Greve Geral de 28 de abril de 2017 foi a maior greve geral da história do país, contando com a adesão de 40 milhões de trabalhadores, que paralisaram suas atividades. A fonte do Brasil de Fato foi a Frente Brasil Popular, um dos movimentos que convocaram a greve geral.
Esse processo não foi um raio em céu azul. Antes do dia 28 de abril, o movimento dos trabalhadores já havia ensaiado uma paralisação nacional no dia 15 de março de 2017. O ponto alto do dia 15 de março foi a Greve Geral Nacional da Educação convocada pela CNTE, que paralisou escolas das redes pública e privada, escolas particulares, escolas municipais, escolas estaduais e escolas federais, sendo os profissionais de educação o setor que protagonizou aquele processo, dando corpo à paralisação nacional dos trabalhadores. O Dia Nacional de Paralisação do dia 15 de março contra a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista mobilizou 40 mil pessoas em Recife, 18 mil pessoas em Porto Alegre e vários outros atos em várias capitais com milhares de trabalhadores, segundo o site da CUT. Mesmo esse formato de Dia Nacional de Paralisação convocado em unidade por todas as centrais não se iniciou agora na luta contra as Reformas da Previdência e Trabalhista do governo golpista de Temer, do PMDB e do PSDB. É possível resgatar no site do PSTU o balanço de um ato nesse formato realizado depois das Jornadas de Junho de 2013, que naquele momento cumpriu um papel decisivo na disputa pela direção do movimento de massas com a extrema-direita que ainda não tinha a força que tem hoje com o crescimento da candidatura de Bolsonaro. No dia 11 de julho de 2013 as oito Centrais Sindicais (CSP-CONLUTAS, CUT, Força Sindical, UGT, CGTB, NCST, CTB e CSB) realizaram o Dia Nacional de Greves, Paralisações e Manifestações. Foram registrados bloqueios de estradas, paralisações e manifestações em 23 estados. Já naquele momento a CSP-CONLUTAS defendia a necessidade de uma greve geral no país e sendo o ano de 2013 o de maior ascenso nas lutas no Brasil nesse início de século isso seria plenamente possível se boa parte do movimento sindical não estivesse atrelado ao governo Dilma e tentasse poupá-lo de qualquer crise que se agravasse com um processo de radicalização das lutas. Trotsky, polemizando com os socialistas que advogavam das teses dos movimentos espontâneos das massas, defendia que todo movimento de massas tem uma direção e analisando a Revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia e a ausência de qualquer partido socialista no cumprimento do papel de direção política do processo dizia que a direção daquela revolução era a vanguarda educada nas palavras de ordem bolcheviques no período anterior. Para Trotsky, a direção daquele processo revolucionário foram "os operários conscientes e bem temperados e sobretudo os que se formaram na escola do partido de Lênin". Nesse sentido, não cumpriram um papel menor o PSTU e a CSP-CONLUTAS na construção dessa greve geral ao fazer dessa palavra de ordem uma verdadeira obsessão, até ironizada como um fetiche trotskista por militantes de outras correntes políticas e ideológicas. Além disso, os militantes do PSOL que foram a vanguarda dos piquetes da greve geral foram no passado ou do PSTU ou da Convergência Socialista, sendo a educação militante um fator fundamental independente do caminho que resolva seguir em cada conjuntura. Mas é preciso dar o devido crédito aos militantes do PSOL, em especial do NOS e da CST, que cumpriram um papel heroico nas Barcas e na Rodoviária Novo Rio, fazendo com que a greve geral se tornasse uma realidade no Rio de Janeiro, enfrentando a repressão policial e até trabalhadores fura-greve. A heroína da nossa greve geral no Rio de Janeiro foi a militante Tatianny, que aproveitou o espaço no SBT Rio para defender as pautas da greve e denunciar a repressão policial que o movimento tinha acabado de sofrer.
Acompanhando pelo Facebook a greve geral era possível constatar que o que prevaleceu foi a combatividade dos ativistas da greve e a brutal repressão policial. Num momento em que o Estado brasileiro e estados como o Rio de Janeiro alegam crise na segurança pública não faltaram policiais e bombas para manifestantes que exerciam o seu direito constitucional de greve e de manifestação. A máscara democrática da burguesia caiu e o caráter bonapartista do governo golpista de Temer, nascido de um golpe parlamentar com o apoio do Judiciário e da grande mídia, apareceu para todos que tiveram acesso aos relatos dos ativistas perseguidos pelas ruas do Centro do Rio pela PM.
Por último, a maior greve geral realizada pela classe trabalhadora brasileira só foi possível porque se construiu uma frente única, uma unidade para lutar, que ia desde a Força Sindical comandada pelo pelego Paulinho da Força até os black blocs e outras tendências ultra-esquerdistas. Foi a unidade de todas as correntes políticas dos movimentos sindical, estudantil e popular que possibilitou que a classe trabalhadora organizada e a juventude travassem a maior batalha de suas vidas no início deste século XXI. E para aqueles que acreditam que isso fortalece o Lula para 2018, na verdade, só amplia a polarização política e fortalece a esquerda radical, que pode se tornar uma alternativa eleitoral em 2018 àqueles que se radicalizam e impedir o crescimento eleitoral do fascista Bolsonaro. Assim como Jean-Luc Mélenchon ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais francesas de 2017, nada garante que Lula será a grande alternativa de esquerda no ano que vem e nada justifica que aqueles que até ontem estavam na oposição de esquerda se rendam ao caminho fácil de retorno à política de conciliação de classes, cujo esgotamento nos levou à crise política atual em primeiro lugar. Se essa greve geral irá barrar a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência no Congresso Nacional isso dependerá se ela será só um evento ou se desdobrará em uma onda de paralisações, greves e ocupações em várias categorias.
Rafael Rossi