Greve em promoção
O direito de greve é inalienável ao trabalhador. É uma forma de manifestação contra políticas trabalhistas muitas vezes favoráveis a posturas até oligárquicas dos empregadores.
No entanto, quando a greve é de fundo tipicamente político-partidário, temos o direito de ficar preocupados. Sobretudo num país em que a corrupção tem também muitas vezes conotação político-partidária.
A obstrução do acesso a hospitais, escolas e outros pontos de importância crucial na vida das pessoas, o estabelecimento de pontos de bloqueio em importantes corredores de tráfego, como a Ponte Rio-Niterói, não devem ser estimulados de forma leviana. Como reação, por exemplo, à extinção do Imposto Sindical. Que irá privar os sindicatos de uma fabulosa verba anual (um dia de salário de cada um dos sindicalizados) que os trabalhadores, via de regra, nunca tiveram noção de onde estaria sendo aplicada. Verba cuja utilização estaria, em princípio, restrita às autoridades sindicais. Possivelmente envolvidas, algumas delas, no recebimento de propina para o adiamento de greves ou quem sabe até a sua deflagração. Conhecimento que hoje tem o público em função de delações premiadas obtidas pela Lava Jato.
Os trabalhadores, nessas circunstâncias, podem estar sendo objeto de ações manipuladoras que determinam um movimento grevista com base em justas reivindicações da classe operária, mas que, na verdade escondem outros objetivos. Sendo certamente um deles a obtenção de uma fatia representativa de poder ou a recuperação de um poder significativamente maior já exercido.
O patrocínio da greve tem também a função de mostrar à sociedade até que ponto às reivindicações trabalhistas, previdenciárias e sociais coincidem com certos interesses partidários contrários às políticas governamentais. Numa demonstração de que todo o povo trabalhador é contrário às ações do governo. Justificando-se, portanto, a alternância de poder. Desde que o poder passe às mãos dos que intransigentemente defendem o movimento grevista.
O governo de fato não é representativo. Até porque fez parte de uma administração que acabou sendo afastada. Mas usar essa realidade com o prejuízo da vida do cidadão comum, ou mesmo do próprio país, tem, no mínimo, cheiro de oportunismo. Sem considerar a provável incapacidade que tem o trabalhador de perceber quando é objeto de uso ou manipulação.
Rio, 28/04/2017