QUE MUDANÇAS QUEREMOS?
Não é sem justificativa o sentimento de frustração, para não dizer de revolta, disseminado em toda a sociedade quanto ao comportamento, a postura e as atitudes do homem público brasileiro; aquele que foi conduzido à categoria representativa de mediador do voto popular; anda tão denegrida sua imagem que fica cada vez mais difícil, mesmo se conseguirmos separar o joio do trigo, de resgatar alguma credibilidade em seus discursos.
Estamos vivendo com certeza uma lamentável crise da palavra. A sensação que esta instituição nos passa, quando observamos o cenário político nacional é que a nossa confiança nunca foi efetivamente respeitada, ou seja, sempre fomos traídos, ignorados, aviltados nos nossos direitos, mesmo assim seguimos relevando esperançosos que um dia as coisas mudem.
Traição sim, pois como utilizar outra denominação em frente à onda tsunâmica de desmandos e envolvimentos fraudulentos que vem sendo descobertos e investigados de maneira nunca visto nos últimos tempos em todos os setores públicos de nossa nação estendendo seu lastro por toda a classe política?
Estamos nos aproximando de uma situação perigosa de insustentabilidade política e econômica gravíssima, em face de um descompromisso ético e moral sem precedentes, tanto a nível individual quanto coletivo, com reflexos em todos os setores produtivos, que pode colocar em risco o próprio estado democrático de direito, reconquistado após anos de lutas, dores e lágrimas.
Por mais que se enfatize a imprescindível participação e interesse popular nas questões de ordem política e econômica do país e que temos nas mãos uma arma poderosa, a escolha através do voto, este tão desonrado, menosprezado, desvalorizado por esta classe, mais repudiados e ignorados nos sentimos das decisões governamentais sobre aquilo que é realmente essencial e atenda ao interesse comum dado o distanciamento abissal entre aquilo que vem a ser promessas de campanha e as expectativas do esperançoso eleitor.
O “day after” de todo processo político eleitoral é aquele costumeiro “banho de água fria” no ânimo da sociedade por saber de antemão a contrapartida e a decepção que a aguarda e esta recorrência que dá mostras de uma cultura vigente, reforça cada vez mais a nossa “pecha” de povo alienado, indiferente, acomodado, aquele que se contenta com o pão e o circo, que se adapta a qualquer impositivo vindo de cima para baixo.
Não trato do tema para levantar a bandeira da desobediência civil, embora alguns grupos espalham este “vírus” pelas redes sociais, e analiso isso dentro da lógica de causa e efeito, acredito que o caminho do diálogo, do entendimento, da justiça sempre será o mais indicado do que “colocar mais lenha na fogueira” aquecendo de vez as paixões com consequências imprevisíveis.
Atento para fato de estarmos beirando a um caos ainda maior: um clima de total submissão, de conformismo, de resignação e apatia social, ou seja, é qualquer coisa como: tudo que poderia ser feito foi tentando, portanto não resta mais nada a não ser se conformar, “botar o rabinho entre as pernas”, como se diz popularmente, e se calar. É triste, é lamentável.
Chegamos a um momento delicado da política nacional, verdadeira exaustão quanto à tolerância; ninguém mais suporta a convivência com este estado de coisas, após a divulgação da lista dos nossos representantes envolvidos em práticas ilícitas e indevidas.
Esta talvez seja a maior oportunidade que temos para empreender as transformações que toda a sociedade anseia na maneira promíscua como se dá a relação público-privado, das estratégias fantasiosas utilizadas para se autopromover como salvadores da pátria.
À tempos esta palavra faz parte do discurso dos políticos brasileiros, principalmente em períodos eleitorais; levantam esta bandeira como panaceia para todos os males, mas como não conciliar interesses, não fazer concessões à este ou aquele grupo representativo quando a intenção é conquistar o maior número possível de apoio, em um cenário de fragmentação político partidário como o nosso em que cada agremiação busca, usando a velha retórica falaciosa, cansativa e manjada defender esta ou aquela prioridade conhecida de todos.
Como um filme repetido milhares de vezes: já sabemos o final. Uma nova história poderia ser iniciada, mas com a mudança de papéis dos protagonistas e figurantes convidados para esta notável representação tão subestimada, tão menosprezada, desvalorizada.
E destaco ainda a parte devida à toda sociedade: é lamentável apontar esta ou outra irregularidade quando se aproveita de certas situações prá se levar a famosa vantagem, acusar este ou aquele político de comportamento reprovável quando o nosso sempre deixou a desejar.
Uma sociedade pautada nos princípios morais e éticos se constrói lentamente e dificilmente alcança-se tal ideal, pois todos somos movidos por desejos, vontades e interesses, todavia se sonhamos com esta possibilidade temos um grande desafio pela frente: nossa mudança interior e individualizada.
Néo Costa. neo.dias@hotmail.com – 18/04/17