A lista da felicidade
Nacib Hetti
Nos últimos tempos não passa uma semana sem uma notícia sobre denúncias de corrupção, que prometem abalar a estrutura da política brasileira. Isso até a próxima segunda feira, quando a bomba anunciada pelos jornalistas vira um traque de São João e o tsunami prometido vira uma marolinha. Um escândalo ou uma delação premiada faz esquecer a anterior. Alguém se lembra da delação do Delcídio? A lista do Fachin do dia 11 último fez a felicidade dos denunciados com mandato. Jogou na mesma vala o corrupto de carteirinha e o político ingênuo (existe?) que pegou uma mixaria para mandar fazer meia dúzia de “santinhos”.
Vocês podem não saber, mas eu sei. Não vai dar em nada, principalmente para os políticos com mandato, que certamente serão reeleitos em 2018, a considerar a qualidade do eleitor brasileiro médio, que não sabe em quem votou na última eleição, e vai continuar não sabendo com o eventual sistema de lista fechada. Os processos iniciados agora serão objeto de manobras jurídicas e recursos sem fim, com o julgamento final jogado para as calendas gregas, se houver. Qualquer político, assessorado por um advogado de inteligência mediana, já tem o esquema pronto: não será julgado em primeira instância antes de 2018 e será eleito para outro mandato com foro privilegiado. Em 2015 o Janot enviou uma lista de investigados para o STF, com cerca de 30 pedidos de inquérito e somente quatro viraram réus, com um rosário de recursos pela frente.
Os primeiros recursos, após as sindicâncias da Procuradoria Federal, serão direcionados para descaracterizar a doação pelo caixa dois como crime eleitoral. Depois virão os recursos para desacreditar as denúncias, baseadas em uma lista sem provas concretas. Passados os dois primeiros anos começarão os recursos processuais, com a convocação de mil testemunhas, depoimentos e novas sindicâncias sem fim. Infeliz daquele que não têm mandato e que precisa de tempo para não ser processado nas mãos do Sérgio Moro, que não tem estrutura para processar e julgar a centena de desvalidos que entulham a Vara Federal de Curitiba.
Felizes aqueles ungidos pela lista do Fachin, com 300 “criminosos” para serem investigados e julgados por uma justiça desestruturada e com um congestionamento processual calamitoso. Para se ter uma ideia tem um ministro do Supremo com mais de 10.000 processos na fila. Já as cabeças coroadas da nação sempre foram imunes a processos e a história nos indica que são imunes, também, a condenações. A consequência imediata da lista do Fachin é a queda da bolsa e o aumento do dólar no dia seguinte, até que tudo volta ao normal na próxima semana. Se é que podemos usar a palavra “normal” na atual conjuntura brasileira. Quem sai ganhando com o desgaste dos políticos tradicionais é o Dória, mas isto já outra história.
Matéria publicada no Diário do Comércio 13/04/2017