FOME E SEDE DE MUDANÇAS

(para Lígia Lacerda, professora e poeta)

Sim, também creio que o poema é um grito de socorro, e me apercebo disto amplamente na obra dos novatos e na dos consagrados, aqui acrescido do natural comedimento que o tempo e a conduta pessoal impõem. Até já escrevi vários textos e versos sobre esta temática. O poema é, em verdade, a repressão à forte hostilidade – a antítese à tese dominante – que brota no psiquismo autoral em determinados momento e circunstâncias, à esteira da concepção filosófica de Hegel, na concepção intuitiva, e desde Freud bebendo os conhecimentos da psiquiatria. O poema é flor nascida em meio à areia movediça, no lodaçal das angústias, inquietudes e ausências, especialmente no território lírico-amoroso. Também tal ocorreu com vários autores, durante os chamados “anos de chumbo”, na recente ditadura militar, em que os inconformados com o status quo questionavam e denunciavam a opressão sobre o indivíduo e grupos pensantes que sonhavam com a Liberdade – que é um dos bens mais preciosos pertinentes ao humano ser. Agora mesmo, nestes 2016/2017, com o atual estado de coisas ocorrente na pátria brasileira – após o julgamento político que resultou no impedimento da presidente eleita – todo o escritor/poeta que tem consciência das necessidades de seus semelhantes menos favorecidos pela sorte ou das contingências de (seu) viver com privações, estará, no mínimo preocupado com o amanhã, pois em jogo está o futuro de seus filhos, netos e bisnetos, firme no desejo de obter a certeza de que a sobrevivência dos seus estará garantida. Enfim, se o povo humilde terá ou não como prover o sustento de si e de sua família. Se isto minimamente não for satisfeito, que razão haverá para que exista o comando governamental de uma nação? Neste momento, em vários recantos do país, geralmente no seio das famílias menos aquinhoadas, há três gerações com fome e sede de mudanças, ansiando por um risonho porvir. É o mínimo que pode desejar um brasileiro para que possa ter orgulho de sua cidadania...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/17.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5956272