SISTEMAS E JEITINHOS

Se perguntássemos à classe política brasileira que país eles governam, as respostas de quem tivesse capacidade para responder seriam assustadoras. Eles governam um Brasil que não existe nem nos nossos melhores sonhos. Ou, seria mais correto dizer pesadelos. Estamos distantes de poder sonhar como nação.

Com a justiça batendo às portas, e o “caixa dois” minguando o saldo das campanhas eleitorais, decidiram apelar para uma disfarçada reforma eleitoral. Com a corda substituindo as gravatas e apertando os pescoços, desde o Judiciário até o Executivo, ouvem-se vozes clamando por mudanças no nosso sistema eleitoral.

Sem debate e muito corporativismo, o caminho parece ser aderir ao sistema de lista fechada. Escolheremos a melhor lista e votaremos nos partidos. Seria a saída perfeita para os rabos presos encabeçarem a lista e continuarem debaixo das asas do STF. O lado bom deste sistema, é que 80% dos partidos que temos atualmente sumiriam.

Hoje os brasileiros votam no sistema da proporcionalidade. Se você sempre votou pensando em eleger um amigo ou parente estava enganado. Para piorar, é possível que tenha ajudado eleger um inimigo, ou algum parente de outra pessoa.

Diante do cenário atual, o programa “Sem Fronteiras” da Globonews visitou as maiores democracias do planeta para conhecer seus sistemas políticos. Alguns enfrentam grandes pressões por mudanças. A Escócia já mudou. Claro que, o motivo não foi para os legisladores escoceses fugirem da justiça.

Na Inglaterra e nos Estados Unidos, usa-se o sistema distrital. Divide-se o país em distritos e apenas o mais votado é eleito. Analistas ouvidos disseram que o ponto negativo deste sistema é justamente este. No Brasil, existiria ainda outro ponto negativo. Os distritos continuariam ser os mesmos “currais” de hoje.

A conclusão do programa era óbvia. Não existe sistema político perfeito. E nem precisa existir quando a classe política na imensa maioria é honesta. Quantos dos nossos “honestos” políticos se perpetuariam nessas democracias de primeiro mundo?

Certamente o que mais fará o Brasil demorar a alcançar o patamar de primeiro mundo, é justamente a nossa classe política. Que resolveu excluir do seu dicionário palavras como promessas e honestidade. O pior tipo de erva daninha é aquele que somos obrigados a plantar e depois aturar. A erva da vez é o cinismo do “deixa pra lá”.

Nenhum sistema político dará certo no Brasil. Aqui o problema não é o sistema. É a própria classe política. Em meio a enxurrada de denúncias, poucos enxergam o paradoxo Temer. Para sustentar a governabilidade de um governo ilegítimo, a proposta é continuar flertando com o crime. Simplesmente criar outro dos nossos “jeitinhos”.