A Semente
A semente
Publicado no jornal O Globo de 20/03/17
Uma amiga relatou conversa, em 2000, com um professor grego que falou do medo que sentia do futuro, por conta da crise moral que seu país vivia. Quinze anos depois a crise grega destroçou o país. Tudo se iniciou com uma crise moral. No Brasil a semente do mal que nos destruirá já foi plantada.
O que dizer do futuro do Brasil a partir desta reflexão? O país está destroçado estrutural e eticamente. Os fundamentos morais da nossa sociedade, que nunca foram muito sólidos desde os tempos da colônia, parecem que estão escorrendo pelo ralo da história. Um alerta para que assumamos atitude de resgaste dos modos e perspectivas de vida consagrados pelo passar dos séculos. Aqueles valores que resultaram na Civilização Ocidental, com suas raízes cristãs, proporcionando o arcabouço filosófico da democracia e da justiça. Esses valores propiciaram o aparecimento de instituições que, em alguns países, mostraram a pujança humana dos seus pressupostos e possibilitaram condições concretas de vida mais feliz e segura para milhões de pessoas. Em outras regiões a colonização predatória, o racismo, a dominação politica e econômica forjou uma realidade bem distinta e triste.
As sociedades democráticas estruturaram-se a partir de Leis, votadas com cada vez mais representatividade e legitimidade. Leis que tem como princípio norteador a promoção do bem comum, um valor moral continuamente aprimorado. Sem este primado ético do pensamento coletivo não teríamos alcançado o nível civilizatório a que chegamos.
Toda a riqueza do Humanismo, visão que confere à Pessoa Humana a prevalência da sua dignidade essencial na construção da história, está sendo colocada em risco. No momento em que a moral não está presente na vida quotidiana e no Poder Legislativo aonde se fazem as leis – o Supremo Poder - tudo passa a vacilar e a sociedade, ameaçada de ruir, compromete sua destinação de promover uma vida coletiva livre, justa e tranquila.
Não precisamos fazer pesquisas para conhecer os males que nos afligem como a péssima distribuição dos rendimentos, o desemprego, a corrupção e o banditismo nas ruas. A raiz de tudo está na existência, nos postos de comando da sociedade, no grupo de cidadãos que fazem as leis, de uma quantidade cada vez maior de pessoas, “representantes do povo”, amorais e desqualificadas intelectualmente. Com elas no comando da nação nada de bom poderá ser feito. Elas precisam ser excluídas, já, pelo voto daqueles cidadãos e cidadãs que tem senso critico e responsabilidade para atender aos sonhos de um Brasil justo e desenvolvido.
É insuportável ver, a cada dia, a nação ser surpreendida pelas noticias de novos atos de corrupção, de homicídios, de decisões governamentais erradas. A atividade politica, a mais nobre atividade do convívio social, foi conspurcada de tal maneira que precisa ser reinventada. É uma vergonha nacional que precisamos eliminar, com urgência.
O estrago que foi feito por este grupo, que há anos domina o poder politico, está nos conduzindo ao caos. Você que lê este artigo precisa, se concordar, fazer alguma coisa. O povo está ameaçado pela anarquia instalada e pelo deboche dos políticos. Organizemo-nos para elegermos, já, os melhores novos nomes e as melhores propostas para a redenção do nosso Brasil e de seu povo, tão sofrido e tão enganado. Nos momentos de crise a omissão é um crime moral e uma perversão do processo histórico que não pressupõe, na sua construção, espectadores, mas sim participantes.
Eurico de Andrade Neves Borba, 76, aposentado, escritor, ex-professor da PUC RIO, ex-Presidente da IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul.