Aécio Neves, em jantar regado a bom vinho, em Brasília, disse que é preciso salvar a política. Evidentemente ele estava pensando nos petardos que os canhões da Lava a Jato vem despejando sobre os políticos desde que as entranhas do poder foram expostas, e o país teve a comprovação explícita (desconfiar ele sempre desconfiou) de que uma máfia de políticos e empreiteiros havia tomado conta do governo e estava assaltando sistematicamente os cofres públicos.
O solerte neto do Tancredo Neves, que ao que parece está metido até o pescoço nesse lamaçal, certamente não estava falando da política no bom sentido da palavra, aquela πολιτικός, que os antigos gregos inventaram como forma de governar a Polís, comunidade onde as pessoas vivem e formam condomínios, dividindo responsabilidades e compartilhando, na mesma medida, os serviços e os recursos públicos.
De se ver, o Senador Aécio Neves, assim como seus comparsas do Senado e da Câmara, têm uma noção de política muito diferente daquela que os dicionários definem, ou seja, ciência de governar, plano de governo, arte de dirigir relações entre estados, estratégia de governo, etc. Política, na mente do Senador, é valer-se das facilidades que os cargos públicos oferecem para manter-se eternamente no poder e gozar das benesses que eles proporcionam.
Se não for isso, que diabo de política o Senador Aécio quer salvar? A política que loteou o orçamento público entre empreiteiros amigos? A política que saqueou os fundos de pensão das principais estatais do país? A política que incha repartições públicas de agregados partidários? A política que malbarata os recursos públicos, deixando á míngua milhões de cidadãos que morrem nas filas dos hospitais e passam noites sem dormir nas portas das escolas públicas para conseguir uma vaga para seus filhos?
O senador Aécio e os demais, que estão vociferando contra a Lava a Jato, não querem salvar a política. Querem sim, salvar os políticos que fizeram dela uma cosa nostra, transformando essa ciência nobre em uma atividade tão suja, que a simples menção desse termo, aos ouvidos das pessoas honestas, já soa como palavrão.
Don Corleone, o famoso chefão mafioso, personagem do romance “O Poderoso Chefão”, de Mário Puzzo, dizia que um advogado com sua pasta pode roubar mais que cem homens armados. No Brasil poderíamos dizer que um político com um mandato pode roubar mais que todos os bandidos armados e advogados desonestos juntos. E é essa política que o Senador Aécio e seus comparsas estão querendo preservar.
Por fim, cabe lembrar que na antiga Atenas, a cidade mãe da democracia, por muito menos do que estão fazendo agora, um político que desmerecesse a confiança pública era punido com o ostracismo. Se a cada cidadão brasileiro fosse distribuído um óstraco (pedaço de cerâmica) para escrever o nome do político que ele quer ver banido da vida pública, quem hoje sobraria nesse Congresso? Pena que esse salutar costume caiu em desuso. Mas o ano que vem tem eleições. Quem sabe o espírito do velho Clístenes não baixa por aqui e a gente não enterra, de vez, todos esses velhacos? Aí sim, estaríamos salvando a verdadeira e boa política.