O ¨MAIS MÉDICOS¨ E O GOLPE DE 2016
CONSIDERANDO A REPORTAGEM DE CAPA REVISTA VEJA, EDIÇÃO DE 22 FEV 2017 - ¨ELES NÃO ESTÃO NEM AI¨ - Veja descobre a natureza corrupta do golpe e inicia seu desembarque.
# Transcrição do artigo escrito e publicado em JUN/13 por ocasião da polêmica gerada pela criação do Programa Mais Médicos na gestão Dilma, coordenado pelo então ministro da saúde Alexandre Padilha. Fatos como este contribuíram para o golpe, tornando-a extremamente impopular, mesmo considerando o atributo populista do programa, apesar da minha convicção e certeza que o mesmo já estava em curso há muito tempo, engendrado pelas ratazanas da política que agora estão no poder, que na época esperaram a primeira oportunidade para deflagra-lo. Infelizmente Dilma foi politicamente ingênua e inflexível para não perceber e entender que teria que suavizar seu comportamento e flexibilizar sua forma de governar, como fez magistralmente Lula, que por sinal chegou a entrar em conflito de opiniões com a mesma.
SOBRE O ¨MAIS MÉDICOS¨
(Fortaleza, 25 de Junho de 2013)
Recentemente vivi a experiência de estar sozinho no plantão de um grande hospital de emergência da grande Fortaleza. É Realmente desesperador.
De repente estava como pediatra, clinico, cirurgião e traumatologista, com mais de 80 pacientes esperando dentro do hospital, alguns há mais de 12 horas e outros tantos lá fora. Somente um colega clinico recém formado compareceu ao plantão mas, amedrontado, saiu logo depois de chegar alegando falta de segurança, fato que não critiquei em nenhum momento.
Alguns pacientes estavam graves, com doenças cardiovasculares, renais, endocrinológicas, neurológicas e traumatológicas que exigiam atendimento imediato. Os traumatológicos encaminhava para os Frotinhas (hospitais municipais secundários de pronto atendimento) , os cardíacos para o Hospital de Messejana, especializado em doenças cardíacas e pulmonares e os neurológicos para o IJF - Instituto Dr. José Frota, pronto socorro de referência na capital cearense, todos como vaga zero. O restante tive que dar meu jeito, porém fiz a exigência do fechamento das portas do hospital a partir daquele momento, apesar da resistência de alguns funcionários que alegavam ordens superiores.
Sem contar o despreparo de boa parcela do pessoal de enfermagem, tinha que enfrentar também as precárias condições de atendimento, a falta de leitos na enfermaria da emergência e na sala de reanimação, obrigando alguns pacientes a ficarem no chão, além da falta de material básico de emergência como monitores, aspiradores, oxímetros, material de entubação, recursos modernos de diagnóstico e medicações, algumas básicas como soros glicosados e fisiológicos.
A Dra. Dilma, nossa presidenta, no que pese estar fazendo um governo razoável, resolveu transigir batendo o martelo, da forma mais arrogante possível na área da saúde, tomando uma decisão unilateral, sem ouvir órgãos, instituições de classe e pessoas que vivem o problema há longo tempo, num típico comportamento que o PT e outras facções de esquerda adoram alegar contra os representantes da direita desde os meus longínquos tempos de diretório acadêmico…o de um comportamento fascista, como esse de trazer médicos do exterior sem a devida validação pelo Conselho Federal de Medicina, passando por cima deste e qualquer outro que seja contra, como um rolo compressor, afirmando que se for preciso muda as regras e normas pertinentes, inferindo assim que, se for preciso, pode até mudar o Código de Ética Médico.
Não havia necessidade disso pois é sabido que a relação de médicos para população brasileira está dentro dos parâmetros exigidos pela Organização Mundial de Saúde, sendo que todo o problema reside na má distribuição desses profissionais, concentrados nos grandes centros urbanos por motivos que já estamos cansados de saber, visto que amplamente denunciado pela mídia, organizações da classe e até mesmo por comunidades de bairros e cidades interioranas.
O Programa Saúde da Família surgiu para tentar resolver, entre outros, este problema, entretanto, como em quase tudo que emperra neste país, está sendo desvirtuado pelos políticos e prefeitos que, através dos desvios, irregularidades e corrupção cada vez mais desenfreada, visam tão somente seus interesses e de grupos particulares, sem qualquer pudor ético ou humanitário de interesse coletivo. O resultado são as mínimas condições de vida profissional, pessoal e familiar para esses trabalhadores da saúde. Outra saída seria a criação da carreira de estado, fornecendo segurança e comprometimento mínimo nessa relação laboral, porém, inviável aos atuais interesses corruptos da classe política brasileira.
Pago pra ver se esses doutores House´s vão dar jeito na saúde pública da forma como sucintamente descrevi, ou seja, sem passar pela análise e revisão adequadas ao problema sanitário brasileiro, problema que há muito tempo venho alertando e discutindo com alunos e residentes de medicina: a questão da GESTÃO EM SAÚDE.
Marco Antônio Abreu Florentino