Suseranos x Vassalos
 
                  A Bastilha, fortaleza construída em 1370 na França, seria as torres gêmeas construídas em 1960 em Brasília?
                   A história conta que em 14 de julho de 1789, como data referencial, assinala o início da invasão do povo francês à fortaleza, que até então simbolizava poder, fortificação e blindagem.
                  Na época, o sistema legislativo francês dividia-se em três grupos, os chamados três Estados: o primeiro compreendia o clero católico; já o segundo representava a nobreza; finalmente, o terceiro, representava a população em geral. Os dois primeiros grupos votavam quase sempre em conjunto deixando o Terceiro Estado isolado e marginalizado, tornando qualquer proposta de mudança da situação pela via política bastante difícil.
         Diante dessa situação de falta de representabilidade política, somada à dilapidação dos cofres públicos promovida pela nobreza e pelo clero, aos problemas econômicos enfrentados pelo país na época (devido à participação francesa na guerra de independência dos Estados Unidos somada às colheitas deficitárias ocorridas naqueles últimos anos), a situação torna-se insustentável, o que lança o povo contra o governo de modo dramático, tomando o controle do país à força.
         As classes mais humildes, o povo, enfrentariam por diversas vezes, situações de superioridade por parte das classes dominantes, até que em 25 de agosto de 1789 seria aprovada a Declaração dos direitos do homem e do cidadão, com cunho “iluminista”, marcando dessa forma o declínio dos traços do sistema Feudal, defendendo direitos considerados atualmente básicos e fundamentais, como direito à liberdade, igualdade perante à lei, inviolabilidade da propriedade privada e resistência a qualquer tipo de opressão.
             Os senhores feudais possuíam terras e exploravam suas riquezas cobrando impostos e taxas desses nobres em seus territórios. Era um tratado de suserania e de vassalagem entre eles. Esses vassalos podiam ceder parte das terras recebidas para outros nobres menos poderosos que eles e passavam a ser os suseranos destes segundos vassalos, enquanto permaneciam como vassalos daquele primeiro suserano. Um vassalo recebia parte da terra e tinha que jurar fidelidade ao seu suserano, num ritual de poder e de honra, quando o vassalo se ajoelhava diante de seu suserano e prometia fidelidade e lealdade.
                   No sistema feudal quem concedia terras era suserano e quem as recebia era vassalo em relações baseadas em obrigações mútuas e juramentos de fidelidade. O rei concedia terras aos grandes senhores e esses, por sua vez, concediam partes dessas terras aos senhores menos poderosos - os chamados cavaleiros – que passavam a lutar por eles. Um suserano se obrigava a dar proteção militar e jurídica aos vassalos. Um vassalo investido na posse de um feudo se obrigava a prestar auxílio militar.
                   O tempo, senhor de todas as ações, transcorreu e vige em 2017, não mais se fala em feudalismo, em suseranos, nem a geografia contempla a França Legislativa daquela época. O hiato temporal e histórico de 228 anos materializa um tempo de modernidade, de rapidez na tramitação de informações, de instantaneidade do que se pensa e do que se pretende.
                   E quem são os nossos “Suseranos” de hoje? Talvez aos mais ecléticos soem bem o verbete, mas, certamente para nós vassalos, seriam todos os nossos algozes travestidos de políticos.
                   Ainda existe a Bastilha dos anos 1370, principalmente no Brasil? Pergunta permeada de um viés principalmente ideológico, complicado, pois “Bastilhas” como fortalezas, sempre existirão, e o nosso Brasil de hoje abriga várias “bastilhas”, sendo a mais nociva, perniciosa, funesta e imoral se localiza no Planalto Central, mais precisamente na Praça dos Três Poderes, em Brasília-DF.
                   Hoje, no nosso amado Brasil, certamente não existe os três estados legislativos existentes na França citada; não temos poder do Clero, não temos poder dos Monarcas, mas temos sim o poder do povo, batizado de “Terceiro Estado”.
                   Existem semelhanças a tudo que se tem de contexto histórico entre a França daquela época e ao Brasil de hoje? Pergunta muito simplória do ponto de vista de uma resposta coerente.
                   Será que há uma votação de medidas legislativas sincronizadas entre o Clero e a Monarquia? Veja bem, no Brasil o clero não mais interfere nas decisões do Estado e nem tão pouco temos Monarquia. Perfeito, mas que tal raciocinarmos com o “clero” e a “monarquia” do mal caratismo, do domínio de interesses espúrios, de quadrilhas instituídas para assaltarem os cofres públicos, talvez justifique dois grupos tão entrosados, não permitindo que o Terceiro Estado, “povo”, obtenha êxito naquilo de interesse comum.  
                   A “bastilha” de Brasília nos alimenta de tudo que não presta: corrupção, desmando, jogo de interesses, destruição do orgulho de ser brasileiro, enfim, a relação dos “suseranos” e “vassalos” do Brasil de hoje é absolutamente trágica, incongruente, promíscua, e por que não dizer catastrófica.
                   Remando para o fim, como corolário, vivemos num país onde o minimamente sério é desprezado; onde o político eleito continua político, abstendo-se incondicionalmente de ser administrador, passando a protagonizar os mais aviltantes momentos de vergonha, de falta de caráter, tudo em nome de uma busca incessante de se locupletar, de enriquecer a custa dos cofres públicos.  
                   Rematando, pois, a única saída para o “Terceiro Poder” – o povo -, é ocupar a “bastilha” do poder carcomido reinante em nosso país. Precisamos mostrar aos nossos “Suseranos” que a palavra final ainda está com o povo, lamentável, mas chegamos ao ponto final, efeitos colaterais poderão advir de nossa escolha? Sim, no entanto, todos os efeitos nefastos e destruidores que já vivemos, talvez justifique a tomada da “bastilha” localizada na Praça dos Três Poderes.

Pesquisa histórica – fonte: http://www.infoescola.com/historia/queda-da-bastilha/