BRASIL:NA ORFANDADE DA ESPERANÇA
"IN MEMORIAN"
Decerto que não deva ser só meu o sentimento que ora descrevo no meu título de hoje : digo-lhes que despertei com a incômoda sensação de que, no tabuleiro da vida em sociedade, estamos cada vez mais órfãos de nobres táticas e boas perspectivas.
E, de repente, diante dum cenário social desolador que nos denota a existência de dois Estados em conflito (um legal e outro paralelo), surreal vetor resultante do tudo que nos levaram pelas corrupções das peles e dos ossos (e já me desculpo a mim mesma por insistir no tema e no sentimento tão ruins), nos deparamos com mais uma tragédia aérea na qual nos despedimos, dentre outras quatro pessoas, duma figura ilustre, homem público relevante, o Ministro do STF Teori Zavaski-relator da operação Lava-Jato, em cujas "mãos doutas" estava a expectativa do consolo e da redenção Nacional, se é que tal é possível, pós a nossa devastação surreal de cerne social, sorrateira; a esperança "em fio" de vermos a Justiça dos “Homens” se cumprir (ao menos em parte, quiçá?!) sobre nosso abandono, sobre o furto da consciência social e da esperança renovadora dos ânimos, a meu ver, o mais grave “delito político” já ocorrido na História por parte dos que cuidam das gentes, cenário ora bem triste, o do nosso Brasil Republicano e Democrático.
Sinto o nosso panorama sócio-político como um tabuleiro de xadrez de campo minado, aonde as torrres desmoronam carcomidas nos desprotegendo a todos, aonde a fé não tem espaço fortificado pelo ânimo, aonde os cavalos tropeçam sem estratégias e sem rumo pelo tabuleiro desorganizado, aonde a rainha caiu desgovernada pelas próprias mãos, aonde o rei segue algemado pelo cenário destruído e aonde o "xeque- mate" é dado apenas sobre os peões que caem em comboio , mortos, dentre tantas, pela pior fome humanitária: a de esperança.
Curioso que, em época de imenso conhecimento científico meteorológico, em que qualquer cidadão é alertado das chuvas pelas multimídias (a levar um guarda-chuvas!), um pequeno bimotor foi colocado no espaço aéreo do tabuleiro, a voar SEM instrumentos, numa região em que, CONHECIDAMENTE, até os pássaros se negam a voar em épocas torrenciais.
No mínimo uma falta de estratégia dos peões dum tabuleiro desnorteado pelo despreparo para decolar...em tudo.
Assim, numa fração de segundos, não morreram apenas os seus cidadãos passageiros.
Com eles morreu afogado o sopro resfolegado duma Nação inteira, na esperança de que ventos melhores de Justiça soprassem pelos céus torrenciais duma aeronave desamparada de tudo, literalmente sem teto de voo por qualquer direção, aquela que um dia foi chamada de Brasil, essa que tão sofregamente tenta reencontrar uma carta para , enfim, decolar seu seguro voo de Nação.
Sinto que também agoniza a esperança de que a justiça dos homens se cumprisse a retificar os danos das tantas dores que nos têm abatido à nossa insistente e desconfigurada fé de decolar como Nação próspera, serena e justa, rumo aos nossos tantos horizontes perdidos...
Mas quem entenderia a vontade de Deus, não é mesmo?
Se sequer conseguimos entender a vontade dos Homens!
Que o Sagrado nos guarde, nos perdoe e nos revigore a todos; aos que partiram daqui o descanso eterno na Justiça holística que tudo sabe e justifica a Seu tempo; e aos que aqui continuam nos abençoe com a milagrosa resiliência de acreditar que a “Justiça dos Homens”, mesmo que sabidamente torta, ainda nos será possível.