Violência e omissão
Violência e omissão
Publicado no blog Diário do Poder de 4/1/2017, Brasilia.
Assisti, horrorizado, nos noticiários das televisões do dia 26 de dezembro passado, no ambiente das comemorações natalinas, uma cena dantesca: dois homens correndo atrás de um travesti com a intenção de agredir. Um vendedor ambulante tenta impedir, os dois voltam e espancam o corajoso cidadão até a morte. Tudo isto se passou num grande salão do metro de São Paulo, filmado pelas câmaras de segurança, com mais de uma dezena de outras pessoas circulando e assistindo o espancamento.
É de se registrar que no período de tempo da brutal agressão, de mais de cinco minutos, não apareceu nenhum segurança do metro ou policial.
Além do horrível espetáculo de uma pessoa sendo espancada por dois homens, o que mais me espantou foi o fato de que ninguém reagiu. No local, pelas imagens, é possível verificar que circulavam cerca de vinte pessoas e ninguém tentou ajudar o vendedor que estava sendo surrado – passavam fingindo que não viam a cena. Não gritaram pedindo socorro – passavam, olhavam e seguiam em frente... Inacreditável. Triste espetáculo. Uma indiferença covarde, inexplicável no mundo civilizado. Reflete o individualismo, o egoísmo, a omissão e o medo que nos envolve, ditando a conduta de vida dos cidadãos nas nossas sociedades. Parece que a perversidade começa a permear o comportamento das pessoas com a exaltação da violência física, sem nenhuma critica ou repressão. Tal comportamento pode ser observado, principalmente, no quadro urbano com a maldade física nos assaltos e com a audiência crescente das novas modalidades “esportivas(?)” como o “full contact” onde a brutalidade e o sangue fazem com que a juventude encontre na bestialidade uma nova forma de diversão e um novo paradigma de comportamento social...
Sem um mínimo de solidariedade, de fraternidade, de coragem cívica e de cordialidade nas relações interpessoais nada de bom e de estável será construído e tudo o que se conseguiu, em mais de dois mil anos de história do processo civilizatório, está se perdendo...
Eurico Borba, 76, cidadão indignado, Caxias do Sul, RS.