O mito de um regime político falido
Há mais de vinte anos li Arquipélago Gulag do romancista e historiador russo Alexandre Soljenítsin. Para não dizer que não recordo de nada das centenas de páginas do livro, arrisco a dizer que ele escreveu sobre a história política da rússia, onde o governo comunista se apropriava de tudo e de todos. Privacidade na Rússia de Soljenístsin nem pensar. Ninguém era dodo de nada, incluindo a própria vida e a da família. O escritor laureado com Nobel de literatura em 1970, embora na sua juventude tenha se definido como marxista-leninista, mais tarde, desgostoso com o panorama político do país muda seu perfil político para nacionalista-monarquista, sem entretanto, se inclinar pelo processo democrático, talvez porque tenha se acostumado como o processo escravista imposto pelos governantes com os quais conviveu. Mas, mesmo assim, preservou sua personalidade pensante, o que o fez discordar das barbáries praticadas pelos governantes de sua época. Isto (discordar do governo) lhe custou a decisão política de condenação aos institutos gulags, também conhecidos por campos de trabalhos forçados.
Embora comunismo e Rússia sejam assuntos recorrentes e tenha se esgotado, tenho certeza que ficou o mito e uma relação distorcida entre comunismo e socialismo, fato que levou vários políticos brasileiros, bem como seu eleitores a associarem seu comportamento e pensamento político ao sistema russo. Nunca vi essa situação como saudável e coerente, no máximo, via como uma proposta cheia de glamour ideológico niilista.
Para entender um pouco dessas posições ditas ideológicas e radicais, pesquisei sobre Karl Marx, Lenin e a Revolução Russa na busca de uma relação plausível e coerente entre pessoas e sistemas que justificassem tal simpatia a regimes autocráticos, ditatoriais e absolutistas; afinal, os russos moravam mal, vestiam mal e comiam mal e, em resumo, eram apenas “coisas” do, ou, a serviço do Estado. Uma amor doentio com ares de patologia ao estilo atual do Estado Islâmico.
No final do ano que passou, numa livraria, vi-me frente a afrente com o seguinte livro: A herança de Stalin – Três Gerações de Amor e Guerra de Oewn Mathews. Ôpa, talvez esteja neste livro a explicação para os simpatizantes e fanáticos pelo comunismo russo. Owen é formado em História e Política russa pela Columbia University Harrimam Center, St Antony's College Oxford e jornalismo pela Faculty of Moscou University. É escritor, historiador e jornalista inglês , tendo nascido na Inglaterra, mas cujos avós e mãe eram russos.
Ele vai atrás da história de seus avós. Para tanto, ele entra na Rússia atual para pesquisar e buscar informações da vida da sua família e da vida política do país que matou seu avô e acabou com a dignidade de sua avó e toda a sua família. O percurso foi longo, desde Stalin até datas mais recentes como os anos 1990. Trata-se de uma história real e triste. Falou de um regime política de dar medo a qualquer mortal que esteja acostumado com repúblicas com um mínimo de democracia. Como brasileiro, mesmo com um república em pedaços e um regime democrático em formação, confesso que, em momento algum fiquei com inveja do comunismo ou “socialismo” russo. Fiquei sim foi traumatizado com um regime, onde não somos donos nem mesmo da nossa alma. Aliá George Orwell em seu livro 1984, sem citar nomes, deixa bem claro essa situação em sua crítica a um país, cujas pessoas são monitoradas e dominadas pelo Estado.
Não quero apenas me contrapor aos que defendem e fazem apologia a regimes políticos com perspectivas de extinção. Mas gostaria de dizer que não existe nenhum glamour em ser escravo ou não ser dono do próprio nariz. Sugiro que gastem energia em algo que respeite a propriedade privada, as pessoas e o livre ato de pensar, ao invés de brincarem com ideologias mofadas e inúteis.