Democracia importada
Em países do Terceiro Mundo sob colonização, ou sob forte influência colonizadora, também existe democracia. A que se destina a transformar os ricos em cada vez mais ricos e a garantir uma desigualdade cada vez maior na distribuição de renda. Desigualdade que normalmente resulta em índices crescentes de pobreza, na condenação à miséria de massa expressiva de residentes em áreas rurais, num apreciável contingente de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza nos grandes centros, no aumento da desnutrição em crianças em idade pré-escolar, no precário atendimento médico direcionado às pessoas de baixa renda, etc. Democracia que, com tais características, incide na expansão dos níveis de desemprego e analfabetismo, no aumento abusivo da dívida externa e na remessa descontrolada de capitais para o exterior.
Nesses casos, essa “democracia” funciona como “um instrumento de colonização”. Garante uma ordem política “democrática na forma, mas autocrática na prática”.
Essa autocracia se dá na medida em que as pessoas que assumem o poder "o conseguem, ou recebem tal autorização", por não representarem qualquer ameaça ao poder colonizador disfarçadamente estabelecido. Cujos interesses, nessas circunstâncias, ficam inteiramente garantidos.
No caso brasileiro atual, por exemplo, em que a esquerda assume posturas nada progressistas, misturando-se por vezes com conduta e prática tradicionalmente vinculadas à direita, temos um cenário mais do que perfeito à manutenção dos objetivos colonizadores.
Tivemos um governo deposto no bojo de denúncias de corrupção e indevidas medidas administrativas. Seguiu-se um governo desacreditado e não representativo cujo titular, ironicamente, fora integrante da chapa do governo anterior. Ou seja, em essência, o mesmo governo – pelo menos, talvez, aos olhos que nos observam do exterior.
E o que é pior: agora, com base nos acordos de leniência, cogita-se da impugnação da chapa que representava o governo anterior e que não deixa de representar o atual, se considerarmos a participação do novo presidente como vice do governo anterior.
Trata-se, portanto, de um tipo especial de democracia. Aquela em que temos liberdade, sim. Concedida para caminharmos com pesados grilhões de que ainda não conseguimos nos livrar.
Rio, 25/12/2016