Somos todos americanos
Segundo estimativas de um relatório do Banco Mundial de 1982, “40% dos residentes na América Latina vivem na pobreza, o que significa que eles não têm condições de adquirir uma cesta de alimentos capaz de suprir suas necessidades básicas mais elementares, sendo que... 20% de todos os residentes vivem em extrema pobreza, o que significa a absoluta impossibilidade de aquisição de alimentos que lhes proporcionem uma dieta minimamente adequada”.
Não há dúvida que de existe um relatório do Banco Mundial para a região no momento atual. Seria interessante conhecermos esses números.
Se considerarmos que os países latino-americanos ainda vivem sob fortes pressões econômicas do exterior, emanadas de entidades como o FMI, em conjunto com disfarçadas ingerências em seus assuntos internos, exercidas por potência que tem a América Latina como sua área de influência, não será difícil imaginarmos que as estimativas de hoje não terão sofrido grandes alterações em relação às de 1982 do Banco Mundial.
As barreiras alfandegárias, prerrogativa do mundo desenvolvido, impõem restrições ao comércio exterior. O que pode favorecer a prorrogação das dívidas dos países em desenvolvimento. No caso brasileiro, pelo menos, não é novidade que o excedente da produção se destine ao consumo interno. A maior parte da produção servirá para fins de exportação. Sujeitando-se, ainda assim, a dispositivos protecionistas que favorecem o “enfraquecimento de políticas de desenvolvimento e de combate à fome em países pobres”.
Isso não mudou de 1982 até aqui. Então não devem ter mudado muito os índices de pobreza na região. Aliás, quanto mais pobre e analfabeta, melhor. Maior será a dependência.
É sintomática uma dessas propagandas afixadas no vidro de trás dos ônibus. Podemos encontrar todo tipo de suco (acerola, manga, abacaxi, maçã, goiaba, etc.) menos o de laranja. E olha que, em muitos casos, propaganda tem a ver com mentira. Mas nesse caso é verdade.
Ainda em se tratando do comércio exterior, se os países latino-americanos almejarem melhores condições de negociação, visando maior equilíbrio na balança de pagamentos de sua dívida, certamente terão que arcar com contrapartidas. Que poderão incidir até em políticas de cunho social.
No caso do Brasil, por exemplo, movimentos como o MST e organismos sindicais como a CUT têm tido uma atividade normal, isto é, sem qualquer tipo de restrição, até que se prove em contrário. Só que isso acontece em função de a esquerda não ter hoje a cara que tinha em 1970/71, anos de chumbo da ditadura, e quem sabe até 82. A postura nacionalista não é a mesma. Fragilizou-se, com toda essa misturada de políticos que se dizem de esquerda, mas que se confundem com os de direita, às vezes revelando-se até mais competentes que seus “opositores”. Então essas organizações poderão atuar da maneira que quiserem porque não vão ameaçar os interesses externos que nunca deixam de estar de plantão. Ninguém vai encampar nada como fez o Brizola.
Talvez não erremos em dizer que a única solução possível, no caso da América Latina, tem que passar pela união entre seus países. Qualquer dispositivo, organismo, etc. nesse sentido deve ser estimulado, perseguido. O MERCOSUL, por exemplo, e quaisquer outros. Só nós poderemos nos ajudar. Tendo em vista que a ajuda externa apenas serviu para propiciar os índices a que nos referimos no início dessa pequena exposição.
Rio, 22/12/2016