O CLUBE DOS CORNOS
As sociedades modernas tendem a emancipar tudo. Emancipamos a droga, que hoje é tão livre quanto os que as consomem. Emancipamos o sexo, que deixou de ser uma função do organismo para se tornar uma fonte de prazer e afirmação pessoal; emancipamos a guerra, que hoje acontece naturalmente. Emancipamos os filhos mais cedo para nos livrarmos da responsabilidade de educá-los, etc.
Já morei em uma cidade onde os costumes eram rígidos e controlados. Todos sabiam quando uma moça solteira deixava de ser virgem. Ela ganhava um carimbo que ficava indelével na testa dela. Quando passava na rua, as donzelas casadouras e as senhoras sem mácula chamavam-na de “essa aí”. Era o mesmo com os garotos que fumavam maconha, o ladrãozinho do bairro, o garoto que fazia dezoito anos e “ainda não trabalha”, o caloteiro que não pagava o carnê e a loja tomava o fogão novo que ele comprou, etc. Nem a nossa sociedade Big-Brother de hoje, com suas câmaras espalhadas por toda parte, fiscalizava melhor os comportamentos alheios que as nossas velhas “Candinhas” de bairro, que sabiam de tudo e ficavam nas janelas das casas trocando “informações”.
Ser corno hoje não incomoda tanto quanto naquele tempo. Não diria que virou moda, mas parece que esse “carimbo” também foi emancipado. Existe até um Clube dos Cornos, em Brasília, que congrega os militantes, homens e mulheres, que já passaram por essa experiência. O fato de esse clube ter nascido exatamente em Brasília é emblemático. Nem sempre sabemos o porquê das coisas, mas que tudo tem um motivo, certamente tem.
Na minha cidadezinha havia um sujeito que era corno. Todo mundo sabia disso, menos ele. Para nós era impossível que ele não soubesse, pois ela não fazia questão de esconder. A coisa era tão escandalosa, que um dia, um dos nossos amigos, não conseguindo mais segurar a bronca de vê-lo sendo enganado daquele jeito, tomou coragem e falou abertamente com ele. A resposta merece reflexão:
─ Eu sei disso, meu amigo e agradeço sua solidariedade. Mas o que quer que eu faça?
─ Larga essa mulher, cara. Ela está envergonhando você.
─ Se eu largar ─ disse ele, prosaicamente ─ vou ter que arrumar outra. Quem me garante que ela não vai me enganar também? Com ela eu já sei como é. Com outra eu não sei como será.
Lembrei-me do meu amigo corno ao ler os jornais do dia. Pesquisa Ibope aponta que o Lula seria o mais votado hoje em uma possível eleição presidencial. Conclui que ele tinha suas razões para não largar a traidora. Afinal, nós trocamos a Dilma pelo Temer e a sensação que ainda estamos carregando um baita par de chifres continua.
Talvez doa menos ser enganado por alguém que a gente já conhece do que se arriscar com alguém que a gente não sabe se vai ser pior. Por isso continuamos sempre com os mesmos. Somos todos sócios do Clube dos Cornos.
As sociedades modernas tendem a emancipar tudo. Emancipamos a droga, que hoje é tão livre quanto os que as consomem. Emancipamos o sexo, que deixou de ser uma função do organismo para se tornar uma fonte de prazer e afirmação pessoal; emancipamos a guerra, que hoje acontece naturalmente. Emancipamos os filhos mais cedo para nos livrarmos da responsabilidade de educá-los, etc.
Já morei em uma cidade onde os costumes eram rígidos e controlados. Todos sabiam quando uma moça solteira deixava de ser virgem. Ela ganhava um carimbo que ficava indelével na testa dela. Quando passava na rua, as donzelas casadouras e as senhoras sem mácula chamavam-na de “essa aí”. Era o mesmo com os garotos que fumavam maconha, o ladrãozinho do bairro, o garoto que fazia dezoito anos e “ainda não trabalha”, o caloteiro que não pagava o carnê e a loja tomava o fogão novo que ele comprou, etc. Nem a nossa sociedade Big-Brother de hoje, com suas câmaras espalhadas por toda parte, fiscalizava melhor os comportamentos alheios que as nossas velhas “Candinhas” de bairro, que sabiam de tudo e ficavam nas janelas das casas trocando “informações”.
Ser corno hoje não incomoda tanto quanto naquele tempo. Não diria que virou moda, mas parece que esse “carimbo” também foi emancipado. Existe até um Clube dos Cornos, em Brasília, que congrega os militantes, homens e mulheres, que já passaram por essa experiência. O fato de esse clube ter nascido exatamente em Brasília é emblemático. Nem sempre sabemos o porquê das coisas, mas que tudo tem um motivo, certamente tem.
Na minha cidadezinha havia um sujeito que era corno. Todo mundo sabia disso, menos ele. Para nós era impossível que ele não soubesse, pois ela não fazia questão de esconder. A coisa era tão escandalosa, que um dia, um dos nossos amigos, não conseguindo mais segurar a bronca de vê-lo sendo enganado daquele jeito, tomou coragem e falou abertamente com ele. A resposta merece reflexão:
─ Eu sei disso, meu amigo e agradeço sua solidariedade. Mas o que quer que eu faça?
─ Larga essa mulher, cara. Ela está envergonhando você.
─ Se eu largar ─ disse ele, prosaicamente ─ vou ter que arrumar outra. Quem me garante que ela não vai me enganar também? Com ela eu já sei como é. Com outra eu não sei como será.
Lembrei-me do meu amigo corno ao ler os jornais do dia. Pesquisa Ibope aponta que o Lula seria o mais votado hoje em uma possível eleição presidencial. Conclui que ele tinha suas razões para não largar a traidora. Afinal, nós trocamos a Dilma pelo Temer e a sensação que ainda estamos carregando um baita par de chifres continua.
Talvez doa menos ser enganado por alguém que a gente já conhece do que se arriscar com alguém que a gente não sabe se vai ser pior. Por isso continuamos sempre com os mesmos. Somos todos sócios do Clube dos Cornos.