Será que nos acostumamos?
Será que nos acostumamos?
Publicado no Pioneiro de 15/12/2016, Caxias do Sul,RS.
O processo democrático no Brasil aperfeiçoou-se. No entanto o povo brasileiro elegeu representantes que foram os responsáveis pela trágica crise que agora estamos atravessando: a corrupção generalizada e a incompetência se apossaram da pátria.
A democracia surgiu na Europa que, por sua vez, é o resultado da pregação cristã. A Civilização Ocidental, nos seus fundamentos, é cristã. O Brasil nasceu neste contexto cultural e nele desenvolveu-se. Agora corre o risco de tudo perder por conta da ação de um bando de malfeitores que tomaram o poder político.
Por que as Igrejas Cristãs estão caladas? Há muito tempo elas já deveriam estar a denunciar a corrupção, a incompetência instalada nos órgãos governamentais, a mentira como instrumento politico. Em outros momentos souberam se manifestar na defesa de valores éticos ameaçados. A democracia, a liberdade, o ideal da justiça, da paz e da solidariedade são os mais belos frutos coletivos da pregação evangélica. O que não pode acontecer, por exemplo, é a CNBB começar a dar palpites sobre detalhes técnicos de politica econômica, como fez agora, recentemente, criticando a tramitação no Congresso Nacional da PEC 241, que trata do estabelecimento de um teto para as despesas da União, criticando medidas de politicas publicas técnicas que não entende, aspectos que são próprios dos leigos.
As Igrejas cristãs pregam o Evangelho e a Lei natural. Os leigos competentes profissionalmente, coerentes com a fé que professam, decidem democraticamente o que julgam ser o mais adequado, exercendo as atividades necessárias ao mais adequado e justo funcionamento da sociedade. Cidadãos e cidadãs, de todas as denominações religiosas e colorações politicas democráticas, precisam se unir e exigir, não o apoio a partidos desmoralizados ou a nomes de lideranças ultrapassadas, mas a observância dos valores éticos que constituem nossa base cultural como nação. Os candidatos não podem ser ladrões, não podem ser demagogos, não podem ser mentirosos e incompetentes.
O que agora deve ser exigido, com urgência, é a eleição de pessoas dignas e qualificadas profissionalmente, e que a moralidade seja restaurada antes da aprovação de quaisquer planos para a salvação da economia, do meio ambiente, da segurança, da educação, da saúde ou do emprego. O descaso, a mentira, o cinismo e o deboche não podem continuar a prevalecer como atitude coletiva majoritária do eleitorado. A população brasileira sabe que sem a competência e a dignidade dos funcionários públicos e dos seus representantes no Poder Legislativo - os maiores promotores do bem comum - nada de bom e de permanente será construído.
Eurico Borba, 76, aposentado, ex-professor e ex-Vice-Reitor da PUC RIO, ex-Presidente do IBGE, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.