Consequências da Lava Jato. Ou: em defesa da corrupção

Eu creio que a Lava Jato foi um equívoco. Afinal, o Brasil só funciona(va) mediante corrupção. É evidente isso. O demonizado aforismo "rouba, mas faz" é, na verdade, digno de nota. Tanto assim que os cabos eleitorais de Adhemar de Barros (1901-1969), ex-governador de São Paulo, utilizaram-no sem qualquer constrangimento. Reparem: os "adhemaristas" não tentavam defender o candidato das denúncias dos adversários, pelo contrário, aceitavam-nas com franqueza; porém, argumentavam que Adhemar, ao contrário dos outros ladrões, "fazia acontecer". O povo, longe de repudiar isso, cantava:

"Quem não conhece?

Quem nunca ouviu falar?

Na famosa 'caixinha' do Adhemar.

Que deu livros, deu remédios, deu estradas.

Caixinha abençoada!"

Vamos pegar um caso mais recente: a era Lula. Os anos de prosperidade do seu governo não se deveram apenas à conjuntura internacional favorável e a políticas econômicas eficientes, mas sim à racionalidade dos esquemas de propinas adotados, ou melhor, conservados. O mensalão, por exemplo, foi a condição sine qua non para que o PT pudesse governar. Acho até injusto o termo que a imprensa utiliza, a saber, "lulopetistas", para qualificar essas práticas de corrupção, pois elas antecedem o governo Lula. De fato, o PT foi o partido mais corrupto do Brasil, entre 2003 e 2016; do mesmo que o PSDB o foi entre 1995 e 2002 e outros governos o foram enquanto estiveram no poder. Locupletar-se com dinheiro público faz parte da tradição dos nossos governantes. Do ponto de vista deles, até honrosa.

Para se ter uma noção exata do nosso sistema político compare-o ao corpo humano. Durante 500 anos, isto é, desde o seu "parto", o organismo esteve doente, seja contaminado por falcatruas ou maracutaias, de modo que virtude e ética eram elementos estranhos à sua natureza. A Lava Jato surgiu então como uma "vacina" que deveria imunizá-lo contra o vírus da corrupção. Porém, aplicaram-lhe uma superdosagem, e o paciente foi parar na UTI.

A verdade, amigos, é que, agora, com o juiz Sérgio Moro e sua trupe, não se faz mais nada. Ninguém é capaz de violentar um escrúpulo que seja para fazer "andar" este País. A não ser os ministros do STF (vide o caso Renan). Pode-se dizer - com cinismo ou não - que o combate à corrupção ajudou a quebrar o Brasil. Com a Dilma no comando, é verdade, estávamos à beira do abismo. Coube a Polícia Federal, Ministério Público e o Judiciário dar-lhe o empurrãozinho final.

O montante recuperado pelos agentes federais (cerca de R$ 5 bilhões) é pequeno se considerarmos os efeitos deletérios causados pela operação. De acordo com cálculo da GO Associados, o impacto econômico estimado foi de R$ 150 bilhões. Isso só em 2015! Até os japoneses estão reclamando. Segundo Shinzo Abe (primeiro-ministro do Japão), a Kawasaki teve prejuízos de R$ 760 milhões no projeto no Estaleiro Enseada, no Rio de Janeiro. Aqui, na capital fluminense, há milhares de desempregados por conta da paralisação das empresas. Já o Estado chegou ao fundo do poço. E não havia petróleo lá.

Haverá reparação? Bem, no caso da Odebrecht a empresa se propôs a pagar, ao longo de 20 anos, uma multa de R$ 6,7 bilhões, dos quais 30% serão destinados a ressarcir americanos e suíços. Bem, pelo menos os corruptos pagarão pelos seus crimes - dirão. É claro. Por exemplo, o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado, está preso em sua mansão. O doleiro Alberto Youssef, cujo cárcere é um apartamento de luxo em SP, teve sua pena reduzida de 121 anos para 3 anos. Parece que o juiz Sérgio Moro lhe teria dito: - " Vá e não peque mais". E daqui a pouco mais de um ano o Marcelo Odebrecht estará livre do xadrez.

Tal qual Hamlet me questiono: Será mais nobre (leia-se menos nocivo) para o Brasil estar sob a "ditadura ética" dos moralistas de toga, num cenário de asfixia econômica e letargia política, ou sob jugo dos corruptos, porém, crescendo?

Vocês devem estar pensando que estou brincando, não? De fato, estou. Pelo menos no que diz respeito a tolerar a corrupção. Porém, a crítica à Lava Jato é sincera, pois, há uma certa insensibilidade por parte desses doutores em relação aos trabalhadores que perderam seus empregos. Além disso, não se pode combater a corrupção do partido a ou b apenas, tampouco cometer abusos, violações e tomar medidas que atentem contra o direito das pessoas, ainda que isso seja, em tese, para o bem do País.

Quanto ao Moro, não vejo razões para aplaudi-lo por realizar o trabalho que lhe cabe; nem a ele ou a qualquer outro. Seria o mesmo que aplaudir o gari por varrer as ruas ou o dentista por extrair dentes. Depois, esse Moro é estranhíssimo: seus modos de falar, raciocinar, bem como sua probidade incorrigível (para nós brasileiros isso é um enigma) nos deixam dúvida de que ele não poderia ser, de fato, um agente americano ou um ciborgue desenvolvido pela CIA com o objetivo de liquidar o Brasil.

Enfim, só terei uma avaliação mais precisa (ou menos avacalhada) da Lava Jato após a delação da Odebrecht - por causa da sua dimensão e dos atores envolvidos. Mas uma coisa é certa: embora esta operação tenha provocado um grande avanço no que tange à moralidade, os estragos que ela provocou são notórios. É bem verdade que comeríamos o pão que o diabo amassou de um modo ou de outro devido às políticas desastrosas da Dilma; o problema é que, hoje, nem esse pão tem mais. E, enquanto nenhum cacique tucano estiver preso, não dá pra levar a sério a ideia de "combate à corrupção".

Talvez, ao final disso tudo, um novo Brasil surja em meio aos escombros. Algo menos ruim do que a Líbia. Quem sabe?

Estevão Júnior
Enviado por Estevão Júnior em 14/12/2016
Código do texto: T5853450
Classificação de conteúdo: seguro