O POVO E OS TRÊS PODERES

Não obstante uma nova constituição ter sido promulgada em 1988, as práticas sórdidas, os vícios e ingerências nefastas da velha república, ainda persistem nos dias atuais.

É fato, o poder executivo precisa enxugar a máquina pública, cortando gastos e promovendo uma reforma no sistema previdenciário. Contudo, não deseja, ou não possui a força e a autoridade moral necessária para cortar privilégios da classe política e de servidores do alto escalão. Ora, se todos são iguais perante a Constituição, por que alguns possuem tantos privilégios? Não deveria ser assim, no entanto, nenhum documento é capaz de fazer frente ao egoísmo humano.

Depreende-se disso que o poder executivo é, a um só tempo, refém e fomentador dos vícios e dos desvios de conduta da nossa putrefata política caseira.

Parece uma dessas anedotas de mau gosto, mas pretendeu-se que um poder legislativo, formado em sua maioria por indivíduos corruptos, aprovasse um projeto de dez medidas contra a corrupção. Resultado: nossas ilustres raposas desfiguraram totalmente o projeto, agindo na calada da madrugada, enquanto o país ainda chorava pela tragédia ocorrida com a queda do avião que levava o time da Chapecoense.

Canalhas e cínicos! Desculpem-me pelas palavras duras, mas foram os melhores adjetivos que pude encontrar para definir nossos políticos, que além de custarem muito caro aos cofres públicos, ainda lesam e matam a nação.

Nossa esperança reside no poder judiciário. O único _ pelo menos em tese _ dadas as atuais circunstâncias, capaz de estabelecer a ordem, combater a corrupção e promover a igualdade mediante a aplicação da justiça.

A sociedade civil, que não se deixa influenciar pelas militâncias partidárias fanáticas e oportunistas, apoia as ações da operação Lava-Jato por uma razão muito simples: os corruptos, sejam estes empreiteiros, empresários, artistas, políticos etc., precisam ser punidos.

Todavia, uma parte dos componentes do poder judiciário também não deseja abrir mão de certos privilégios e mordomias e falta, especialmente ao STF, a quem cabe ser um guardião da nossa Constituição, uma necessária isenção política-partidária por parte de alguns de seus ministros, quando no exercício da nobre e difícil tarefa de fazer com que se cumpra a justiça. Afinal, somos ou não somos todos iguais perante a lei?

Fica aqui a nossa dúvida, senhores ministros.

Quando os poderes legislativo, executivo e judiciário falharem, temos como derradeira alternativa aquela voz que ecoa nas ruas, clamando por um Brasil melhor.

Protestemos, fazendo valer aquela máxima que apregoa que todo poder emana do povo.

Se não existem heróis na política, a esperança deve recair sobre as leis e eu ainda acredito nelas, por mais que esteja difícil.