A Ressurreição de Renan Calheiros

Como entender como uma figura tão desmoralizada por escândalos políticos e manifestações populares pode se tornar a figura mais intocável na política brasileira?

Um deles pelo esquema de propina que pagava a pensão alimentícia da ex-mulher. Outro em que se servia de laranjas para compra de emissoras de rádio do qual escapou da cassação em plenário. Anteriormente teve que renunciar para escapar de cassação iminente, mas depois foi colocado de volta pelo voto popular.

Renan Calheiros é antes de tudo um exímio conhecedor dos trâmites e bastidores políticos. Ele é o cara que sabe como articular as coisas no congresso para que votações e posições sejam tomadas. Se por um lado ele pode facilitar para o executivo aprovações de projetos ele pode levar o mesmo a ser derrubado. Como com com foi o caso de Dilma Rousseff.

Os ingênuos acreditam que foi a crise econômica que tirou Dilma Rousseff. Crise muito pior não tirou Fernando Henrique Cardoso. A mídia também não conseguiu derrubar Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com seu duvidoso "eu não sabia de nada" diante do escândalo do mensalão.

Quando o PT ampliou as políticas sociais iniciadas timidamente pelo presidente anterior, quem estava lá apoiando? Renan Calheiros. Figura que nem Dilma Rousseff tinha coragem de desafiar. E agora, com um projeto político oposto, de enxugamento do Estado das preocupações sociais, quem está lá segurando as pontas? Renan Calheiros.

Não houve executivo com Renan Calheiros na oposição e muito menos com o colega, agora aposentado, Sarney. Este fora aliado desde FHC a Dilma Rousseff.

Existem homens, a maioria deles, que estão sujeitos à instituições. Eles a entendem como algo acima das individualidades, como conjunto de crenças e valores a qual é inconcebível não se sujeitarem. Outros, uma minoria, veem estas instituições como mecanismos, máquinas burocráticas e ideológicas que sustentam partidos e homens no poder.

Estes poucos homens são verdadeiros doutores da política. Não que eles acreditam que podem fazer o que quiser, mas que sabem o que fazer e o que não fazer para que certas coisas aconteçam. Não nutrem nenhum misticismo ou fé obstinada neste sistema, eles o veem como um mecanismo complexo cuja a forma de funcionamento eles dominam da mesma forma que um engenheiro ou um outro perito domina seu ofício.

É preciso entender por outro lado, que partidos como PMDB são verdadeiras escolas de poder. Aquele que ali mergulha com inteligência e humildade é capaz de entender por que dali surgiram homens tanto capazes de construir uma nova constituição para o Brasil, como Ulisses Guimarães, como aqueles capazes de dar sustentação a desconstrução da mesma constituição como Renan Calheiros.

São os verdadeiros herdeiros dos antigos Liberais e Conservadores do Brasil Imperial. Antes de escolherem uma ideologia ou um projeto político, eles escolhem sobreviver. Eles estudam a máquina pública e dominam. Eles não são meros burocratas e sim conhecedores da instituição e da forma como os homens nela engajam.

De tal forma que podem controla-la a favor ou desfavor de quem lhe interessam. Como peritos, sabedores do conhecimento e poder que possuem, nenhum governo se estabelece sem negociar com eles antes.

A indisposição do Fernando Henrique Cardoso, no seu último mandato, com Antônio Carlos Magalhães, outro vulto do PMDB, com certeza contribui para que ele não fizesse um sucessor, José Serra, que era na época até mais popular que hoje.

Renan Calheiros foi ressuscitado pelo STF com apelos de lideranças como FHC e mesmo com apoio de políticos do PT como Jorge Viana, que como vice presidente assumiria o lugar de Renan. Jorge Viana foi inclusive elogiado por Renan Calheiros durante sessão não deliberativa em que lhe foi dito que ele estava acima do PT.

O que tem custado a Jorge Viana a acusação de ter se acovardado, quando na verdade ele sabia que o antigo projeto político do PT não poderia ser mais ressuscitado. Ele compreendeu, o que a maior parte da esquerda ingênua ainda não entendeu: a base fundamental do projeto político do PT era o mesmo grupo que hoje se encontra no poder, em outras palavras - xeque-mate!

Então, não fazia sentido algum travar o atual governo sem ter outro projeto que o substitua de forma viável, tanto no aspecto econômico quanto político. Ele escolheu uma ordem desfavorável a um provável caos. Jorge Viana é senador pelo único estado que escolheu ser brasileiro, o Acre. Não creio que a ingenuidade da esquerda lhe faça a justiça adequada.

Ao ver senadores como Lindenbergh e da Rede encabeçando impeachment contra Temer, sem saberem que darão ao próprio congresso que o colocou lá o direito de escolher o próximo presidente,vejo claramente como a esquerda no Brasil poderá acabar ou de onde terá que começar a mudar.

Se a ideia é desgastar Temer eu os coloco do mesmo lado que Eduardo Cunha, que topou mergulhar o país numa crise política para que a presidente fosse afastada. Se a ideia é voltar com o antigo projeto e os coloco do lado dos ingênuos que não sabem o que fazem.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 09/12/2016
Reeditado em 10/12/2016
Código do texto: T5848513
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