A cidadania exige dignidade.

A cidadania exige dignidade.

Publicado no jornal Correio Riograndense, RS, de 30/11/2016.

Nós cristãos leigos estamos muito quietos frente ao caos moral e a anarquia institucional que está se instalando na sociedade. Não basta orar, ter compaixão, fé no Deus misericordioso “redentor dos homens”. Também é preciso testemunhar nossa fé na politica, na vida diária de uma sociedade. O Estado brasileiro é laico, mas os homens e mulheres que o compõem, na sua maioria, são fieis de alguma religião e devem, para serem coerentes com a sua crença, no dia a dia de suas vidas e profissões, praticar as orientações da fé que professam.

O processo democrático no Brasil aperfeiçoou-se. No entanto o povo brasileiro elegeu representantes que foram os responsáveis pela grave crise que agora estamos atravessando: a corrupção generalizada e a incompetência irresponsável se apossaram da pátria.

Nós o povo, a maioria do eleitorado, somos os culpados por esta insustentável situação. Fomos enganados? Fomos irresponsáveis? Fomos coniventes? Precisamos corrigir o erro praticado.

A democracia, fruto da genialidade da Civilização Ocidental, surgiu na Europa que, por sua vez, é resultado da pregação cristã. Assim sendo a Civilização Ocidental, nos seus fundamentos, é cristã. É a este substrato cristão que precisamos recorrer neste instante dramático para reencontrar os caminhos adequados ao espírito Humanista, aquele que confere a perspectiva da supremacia da dignidade da pessoa humana na construção da nação.

O Brasil nasceu neste contexto cultural e nele desenvolveu-se. Agora corre o risco de tudo perder por conta da ação de um bando de malfeitores que tomaram o poder político.

Por quê as Igrejas Cristãs estão caladas? Há muito tempo elas já deveriam estar a denunciar a corrupção, a incompetência instalada nos órgãos governamentais. Em outros momentos souberam se manifestar na defesa dos direitos humanos. A democracia, a liberdade, o ideal da justiça, da paz e da solidariedade são os mais belos frutos coletivos da pregação evangélica.

Cidadãos e cidadãs de todas as denominações religiosas e colorações politicas democráticas precisam se unir e exigir, não o apoio a partidos desmoralizados ou a nomes de lideranças ultrapassadas. Não. O que deve ser exigido é que os valores éticos que constituem nossa base cultural cristã sejam respeitados. Os candidatos não podem ser ladrões, não podem ser demagogos, não podem ser mal formados academicamente.

O que se exige é que a moralidade seja restaurada antes da aprovação de quaisquer planos para a salvação da economia, do meio ambiente, da segurança ou do emprego. A população brasileira sabe que sem a competência e a dignidade dos funcionários públicos, em todos os níveis – operadores que são da promoção do bem comum - nada de bom e de permanente será construído.

Eurico Borba, 76, aposentado, ex-professor e ex-Vice-Reitor da PUC RIO, ex-Presidente do IBGE, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.