O “Conselhão” do Temer
Nacib Hetti
Produto estratégico do ex-presidente Lula foi a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República, o Conselhão, destinado a manter aos pés do trono alguns líderes empresariais e representantes da sociedade civil. Durante o governo Dilma Rousseff, o Conselhão foi figurativo, mais para manter viva a ideia do seu tutor, que objetivava dar a impressão aos seus componentes de que faziam parte do governo. Se Dilma não conversava nem com seus ministros, imagina se ouviria os seus 92 conselheiros, hoje aumentados para 96. E agora o presidente Michel Temer, esperto como um bom libanês, renovou a entidade, tirando os ideologicamente comprometidos e incluindo figuras mais representativas.
O Conselhão continua a ter de tudo. Entre eles, os líderes empresariais de sempre, figuras do entretenimento, juristas e políticos sem mandatos, muitos de olhos nas benesses do governo, agora com as arcas vazias, e outros, bem-intencionados. Tem esportistas, intelectuais, artistas e os eternos dependentes dos incentivos derivados da renúncia fiscal, de olho nos financiamentos a taxas de juros sonhadas pelos médios e pequenos produtores. O Planalto não comenta, mas alguns notáveis, consultados, declinaram do convite. Não querem ser partícipes de um governo sem popularidade.
O novo Conselhão é mais uma tentativa de levar credibilidade para um governo sem apoio popular, financeiramente debilitado e indexado pelas agências de risco internacionais. Bem bolado no governo Lula, com a assessoria maquiavélica do então chefe da Casa Civil, José Dirceu deve, agora, reeditar a fórmula com a participação de novos líderes e representantes sociais, lembrando que muitos conselheiros de ontem estão tirando férias forçadas em Curitiba.
A maioria das sugestões do CDES adotadas pelo governo anterior, na realidade, foi gestada pelos “lobbies” articulados dentro do próprio órgão, a começar pela realização dos interesses dos banqueiros conselheiros, como foi o caso das operações de crédito consignado em folha de pagamento. Já o PAC foi “sugestão” dos conselheiros empreiteiros, de olho nas obras de infraestrutura. Alguns atuais conselheiros poderão contribuir para o desenvolvimento econômico e sovial, dando ao país o caráter de uma economia de mercado realmente competitiva. Nessa função, destaque para Dorothéa Werneck, Guilherme Afif, Jorge Gerdau, Paulo Lemann e Josué Gomes da Silva.
No grupo escolhido estão algumas entidades efetivamente comprometidas com os destinos do país, em condições de representar a sociedade civil em um bom diálogo com um governo que saiba ouvir. Porem, pelo cenário desenhado, não podemos perder esta oportunidade para direcionar as políticas nacionais, atendendo às demandas de um povo carente e sem confiança no poder.
Se não for para valer, o Conselhão continuará a ser mais uma peça de decoração para os salões do Palácio do Planalto.