Trump venceu... E daí?
Trump venceu... E daí?
Contrariando todos os prognósticos, ou quase todos os prognósticos (Michael Moore foi uma das raríssimas exceções, dentre os analistas políticos, a apontar, de maneira categórica, a vitória republicana), Trump é o novo presidente dos EUA. Muita tinta será gasta, muitos argumentos serão construídos para tentar explicar o porquê desta vitória aparentemente, inusitada, surpreendente, temida...
Mas, inusitada, surpreendente, temida para quem? Por quem?
A eleição do candidato republicano, tal como a saída da Grã-Bretanha da União Europeia parecem se constituir em eventos referenciais de grande visibilidade da crise, quiçá, do desmantelamento dos "sonhos" de integração econômico-cultural (integração esta q levaria inevitavelmente ao "fim da Historia, segundo as previsões de Fukuyama) e de superação das concepções e das práticas de nacionalismos mais exacerbados, "sonhos" estes gerados pela globalização do final do século XX e q está a se manter em um ambiente de crescente mal-estar, até os dias de hj.
A vitória de Trump é a vitória da América profunda, silenciosa, nada cosmopolita, pouco simpática à integração de mercados, avessa a imigrantes (quaisquer q eles sejam) e cansada dos discursos e das práticas dos políticos tradicionais de ambos os partidos q dominam a institucionalidade politico-partidária norte-americana.
Foi a vitória do discurso politicamente não-correto a respeito de temas configurados, nos últimos tempos, como tabus pela "ditadura bem-pensante" do establishment cultural norte-americano.
É certo q o Trump presidente terá q abandonar ou mitigar muitas das propostas, um tanto o quanto, bizarras do candidato Trump. Seu governo não poderá se esquivar, pelo menos por ora, das responsabilidades planetárias dos EUA no q tange a temas como defesa, meio ambiente e o próprio funcionamento do sistema capitalista, irreversivelmente mundializado.
Portanto, não se trata do fim do mundo como querem fazer parecer as falas dos setores politicamente corretos, especialmente nesta república pindorâmica. Até porque a América Latina e o Brasil estão completamente fora do radar dos interesses norte-americanos... Nossas mazelas continuam sendo exclusivamente nossas... Paulo Fleury