A CNBB está confundindo os católicos.
A CNBB está confundindo os católicos.
Publicado no jornal O Globo, RJ, de 21/11/2016.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em outubro passado, divulgou nota criticando fortemente a PEC 241, que trata de estabelecer um teto para as despesas do governo federal. A referida proposta de emenda constitucional está sendo duramente combatida pelo PT e alguns outros poucos partidos de uma esquerda ultrapassada.
Ao apoiar, anos atrás, o Partido dos Trabalhadores-PT que começava a se insinuar como sendo o único porta-voz da justiça social, da politica sadia e da moralidade publica, parte da Igreja acreditou e induziu milhões de fieis a aceitarem aquela proposta, ajudando o partido e ao seu líder a chegarem ao poder em 2003.
Agora, por décadas vamos sofrer com as consequências das erradas decisões sociais, politicas e econômicas. O Brasil foi destroçado – só os despreparados intelectualmente e os irresponsáveis se recusam a aceitar a evidencia dos fatos e das estatísticas.
Os leigos fazem politica, cuidam da economia e do funcionamento da sociedade - a Igreja indica os caminhos para a observância do Evangelho e da Lei Natural. A Igreja com a sua Doutrina Social, cada vez mais explicitada desde a Enciclica Rerum Novarum de 1891, aconselha os grandes princípios da moral e da justiça social, mas não faz nem pode fazer opções politicas partidárias. Não é esta a sua missão. São várias as indicações do Magistério oficial desde o Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, (1965, nº 76) e nas Encíclicas Octogesima Adveniens, (1981, nº 48), Sollicitudo Rei Socialis, (1987, nº 41), Centesimus Annus, (1991, nº 43).
Parte da atual liderança da Igreja Católica, numa manifestação equivocada e indevida, passa a criticar os esforços que o atual governo está fazendo para tentar salvar o salvável, evitando que o povo mais humilde venha a sofrer ainda mais com o desemprego, com o não pagamento de salários e de aposentadorias dos funcionários públicos o que já está acontecendo em alguns estados, com a insegurança publica, com a educação de má qualidade, com a saúde publica precária, com o meio ambiente em acentuado processo de deterioração.
O PT começa a se aproveitar, (principalmente pela Internet), da ingenuidade de alguns membros da Igreja, tentando se reerguer depois da recente fragorosa derrota eleitoral, em todo o Brasil. O eleitorado sofrido e enganado não se esqueceu dos processos de corrupção que as lideranças do PT respondem. A Igreja Católica vai se juntar a este bando e mais uma vez colaborar com o erro e a mentira?
Por que os senhores Bispos não pedem o aconselhamento dos cientistas sociais das Universidades Católicas? Os professores das Universidades Católicas estão a serviço das elites? As Universidades Católicas não estariam habilitadas para assessorar a Igreja? Breve vamos enfrentar as imprescindíveis reformas da previdência social, da politica, da trabalhista. A Igreja também vai se intrometer dando palpites sobre detalhes técnicos que envolvem calculo atuarial, demografia, economia, etc.? Voltará a insinuar que os “maus” que agora assumiram o poder estão maltratando e explorando os trabalhadores mais humildes e pobres?
Os senhores Bispos nunca foram veementes na condenação da incompetência e da corrupção que grassava no Estado brasileiro. Parecem não entender nem perceber a gravidade da crise nacional. Por favor, não se manifestem sobre detalhes técnicos de como proceder – este é o papel dos leigos comprometidos com a sua fé. Não contribuam, com suas proclamações equivocadas, para aumentar a confusão do Povo de Deus, fazendo crescer a impressão de que somos uma Igreja decadente.
Eurico Borba, 76, aposentado, ex-professor da PUC RIO, ex-Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.