A mídia e a propaganda protecionista
Através de "Deterring Democracy", de Noam Chomsky, ficamos sabendo que por volta de 1986, em campanha deflagrada conjuntamente pelo governo e a mídia, 60% dos americanos consideravam a Nicarágua como de "interesse vital" para os EUA, bem acima da França, do Brasil ou da Índia.
Em meados de 1980, o terrorismo internacional, especialmente no Oriente Médio, fizera parte das principais atenções. Para corroborar o brilhantismo de tais atos de propaganda, ou em decorrência desses atos, não se pode esquecer que, durante seus anos mais intensos, 1985-6, os EUA e seu aliado Israel foram os responsáveis pelas mais sérias ações de terrorismo na região, sem falar na liderança dos EUA no terrorismo internacional praticado no mundo todo em anos anteriores. A pior ação terrorista isolada na região, em 1985, foi a explosão de um carro-bomba, em Beirut, que matou 80 pessoas, deixando 250 feridas. Tendo sido inicialmente perpetrada pela CIA, a ação foi graficamente caracterizada, mas não fez parte de qualquer lista para efeito de divulgação.
Para ficarmos com outro exemplo significativo, em 1987 revelou-se que uma das maiores operações terroristas contra Cuba ocorreu durante os tensos momentos da crise dos mísseis: uma equipe organizada pela CIA explodiu instalações industriais na ilha, provocando a morte de 400 trabalhadores em incidente que poderia ter dado início a uma guerra nuclear. Sobre tais ações não se conseguiu achar uma única referência na mídia em meio à fúria duradoura contra "a praga do terrorismo internacional" atribuída aos esforços dos árabes, com a ajuda da KGB, no sentido de deteriorar o Ocidente.
Temos observado que Nicarágua, Líbia, Granada e mesmo Cuba ao longo do tempo foram abandonadas pela mídia ocidental como fontes do terrorismo internacional para efeito de propaganda. No entanto, outros monstros deverão ser "construídos" para a ocupação dos lugares disponíveis e a manutenção da ideia do "Evil Empire" (Império do Mal) destinada a amedrontar o mundo. Foi assim que tivemos o Iran, com a sua bomba atômica, o Iraque... e agora temos a Coreia do Norte e o Estado Islâmico, pelo menos, como elementos que justifiquem a “proteção” mundial do Império Americano.
Rio, 14/11/2016