O Império de Trump

Donald Trump, presidente do Estados Unidos. Quem diria? Parece até a cena do filme De Volta Para O Futuro na qual o Dr. Emmett Brown é informado sobre quem seria o presidente em 85: "Ronald Reagan, o ator? E quem será o vice-presidente, Jerry Lewis?".

A vitória de Trump demonstra o quão machista os americanos são; eles até podem aceitar que um negro seja presidente, mas uma mulher? "Aí já é demais". Todavia, nada mais natural para o país da Coca-Cola eleger um capitalista pra governá-lo. A partir de 2017, vai estar aberta a temporada de caça aos “chicanos”. Ted Nugent já está na expectativa.

Apesar dos ianques estarem no comando da maior economia do mundo, eles são meio caipiras. Nem todos, é claro, apenas 80%. Sendo que a maioria vive no Sul. Elegem um candidato cujo lema mais parece um anúncio de Viagra: "Faça a América Grande Novamente". Mas que dizer de um um povo que quando atinge a maioridade ganha um rifle de presente? E que saí por aí atirando nas pessoas porque tirou C em biologia?

Trump é elitista, machista, racista, xenófobo, homofóbico, ou seja, ele reúne em si as qualidades essenciais de um republicano. A despeito de ser um crápula, o magnata tem uma vantagem em relação à Hillary. Ele é sincero. Fala tudo que lhe vem à cabeça. Declarações estúpidas dele como "Está congelando e nevando em Nova York, precisamos de aquecimento global!" fazem-nos rir. Ou quando diz que após a invasão do Iraque pelos EUA, o país do Oriente Médio tornou-se a "Harvard do terrorismo". No fundo, a gente até concorda com algumas coisas. Ou não? Mas é politicamente incorreto admitir isso.

A Hillary, por sua vez, diz uma coisa e faz outra. Diz em comícios que vai lutar contra a hegemonia dos grandes bancos, mas em palestras para banqueiros promete favorecê-los. Num dos seus e-mails vazados, ela afirmava que "você precisa de uma posição pública e outra privada". Além de dissimulada, a democrata não tem carisma nenhum. Parece um robô. É compreensível que tenha sido traída pelo Bill Clinton.

Não quer dizer que eu defenda Trump - meu "candidato" era o socialista Bernie Sanders - e sim que não acredito na tese do "mal menor". Veja bem, a "Lady Macbeth", quando era senadora, votou a favor da Guerra do Iraque (aquela tragédia), e, quando secretária do Estado, deu curso a políticas intervencionistas na Líbia, Síria, etc, o que permitiu a expansão do Estado Islâmico. Devemos julgar, sim, o republicano por suas ideias mirabolantes, que, por ora, não passam de ideias, ao passo que devemos julgar Hillary por tornar o mundo um lugar menos seguro. Imagine o que faria na Casa Branca? Trump disse, com razão, que ela provocaria a Terceira Guerra Mundial.

Hillary é imperialista; Trump, um canalha que só pensa no próprio umbigo. Do tipo "Deus abençoe a América, e que se dane o resto". Ambos são terríveis, cada um a sua maneira. Eu repudio os dois, embora ache graça nas loucuras do Trump. Não fiquei alegre nem triste com a vitória dele. Como dizem os anarquistas: - "Hay gobierno? Soy contra".

Segundo parece, por lá também pensam igual, pois, mal saiu o resultado e já tinha protestos violentos nas ruas. A "democracia" americana que permite esse imbróglio (seja lá o que isso signifique). Na verdade, deveríamos chamá-la de plutocracia bipartidária. Afinal, como um povo tão heterogêneo pode ser representado pelos partidos Democrata e Republicano? Não digo que não há outras legendas, mas nenhuma delas tem chances reais de ganhar, pois, durante a fundação do país foram criados mecanismos, entre os quais o voto indireto, para reduzir o poder de decisão do povo.

Lá, é bem verdade, existe uma liberdade de expressão quase irrestrita - uma das grandes conquistas liberais - mas até isso pode ser um problema. Outro dia li a notícia de que o jornal da Ku Klux Klan havia declarado voto em Trump. Fiquei estarrecido. Não tanto pela declaração do voto em si, mas pelo fato de a Ku Klux Klan existir em pleno séc XXI. E ainda tem um jornal.

Trump representa a face conservadora da América. É uma ameaça concreta aos direitos civis, às minorias, às misses Universo. Porém, há uma contrapartida progressista atuante por lá também; e a retórica anti-imigrante do bilionário pode ter funcionado num contexto de crise, guerra, terrorismo. No entanto, você não pode ludibriar as pessoas com o discurso do medo por muito tempo. Vejam o Hitler, quanto tempo ele esteve no poder? Doze anos? Bem, daí pode-se concluir que...melhor seria não ter dito nada.

Devido à crise no Brasil, o melhor a se fazer é correr para fronteira do México com os EUA para trabalhar na construção do muro que, segundo Trump, o México vai pagar. Pelo menos, um trampo a gente arruma.

Estevão Júnior
Enviado por Estevão Júnior em 11/11/2016
Reeditado em 12/11/2016
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