Prefeito Crivella

A vitória de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro não surpreendeu ninguém, afinal, ele estava à frente nas pesquisas desde o início. Mas custa crê que uma cidade descolada como o Rio será administrada por um careta; que a terra de Noel Rosa, Millôr Fernandes e Mr. Catra estará nas mãos de um conservador ligado à máfia evangélica.

Fui ao comício do PSOL na Lapa, na quarta (26), e vi aqueles caras falando em uma suposta virada histórica. Nem eles acreditavam naquilo. Falavam por um dever de iludir aos outros ou então por simples protocolo. Durante o discurso do Guilherme Boulos (líder do MTST), eu percebi que ele impõe a voz e gesticula com os maneirismos de um profeta bêbado - é risível. Parece uma caricatura do Lula.

Freixo, em tese, tem o apoio das minorias; entretanto, uma vez que são minorias, não podem somar muitos votos. Este pensamento, que, a princípio, pode parecer superficial, traz consigo algumas lições para futuros pleitos. Se quiser vencer, o PSOL deve sair da Zona Sul e criar uma base de apoio nas regiões periféricas da cidade, e, para tanto, deve furar o bloqueio das milícias, quando não do tráfico, e tirar o povo da influência das igrejas (neo)pentecostais e demais "forças retrógradas". É a condição sine qua non. Aliás, obter esse apoio é o dever de qualquer partido que se reivindique socialista.

Crivella, por sua vez, já tem o voto dos descamisados - crentes ou não - bem como das nefastas milícias, e, pior ainda, dos atores da Record. Ou seja, um leque bem mais amplo. Além disso, teve o tal do "voto útil" contra o Freixo, movido por puro preconceito ideológico. Até os fãs de black metal votaram no Crivella. Há um ressentimento contra a esquerda de tal modo que se Mussolini disputasse as eleições com Freixo, o ditador venceria.

Em Bangu, Crivella comemorou a vitória e fez uma oração de mãos dadas com o Índio (PSD), Carlos Osório (PSDB), Flávio Bolsonaro (PSC) e seu pai, o Hitler bronzeado, Jair Bolsonaro (PSC). Todos eles a fim de uma boquinha na Prefeitura. Malafaia também estava lá. O último candidato que o pastor assembleiano apoiou aqui quebrou o Estado. Refiro-me ao Pezão. Só faltaram à festa o Garotinho e o cardeal Dom Orani, que censurou o apoio dos padres ao candidato "subversivo" mas que se calou ante os comentários preconceituosos de Crivella relacionados à Igreja Católica. Vai entender.

Eu não tinha nada contra o Crivella. Pra mim ele era apenas um político inexpressivo que, não obstante, havia assumido o cargo de ministro da Pesca no governo Dilma, para depois traí-la; e um dos líderes da lURD, instituição (empresa) que vive em função da exploração dos seus fiéis. Mas, repito, não tinha nada contra ele. Foi por conta das revelações da Globo e Veja que passei a vê-lo com um outro olhar, como quem olha um leproso: um misto de repugnância e pena. Na verdade, estou exagerando.

Acho que se o futuro prefeito do Rio não quebrar a cidade até 2020, sua administração já poderá ser considerada exitosa. Não dá pra ter muitas expectativas. De qualquer modo, devemos cobrá-lo para que não haja retrocessos, e ele deve ouvir-nos. Senão iremos protestar ocupando cada uma das igrejas Universal na cidade.

Estevão Júnior
Enviado por Estevão Júnior em 04/11/2016
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