Restaure-se a dignidade

Restaure-se a dignidade

Publicado no Blog Diário do Poder, Brasília-DF, de 25/10/2016

O processo democrático no Brasil aperfeiçoou-se. No entanto o povo brasileiro elegeu representantes que foram os responsáveis pela grave crise que agora estamos atravessando: a corrupção generalizada e a incompetência irresponsável se apossaram da pátria.

O maior responsável pelo desastre foi o Congresso Nacional - o “supremo poder”. Cabe ao Congresso a aprovação das leis, do orçamento da Republica e a fiscalização do poder Executivo. Desde a redemocratização, em 1985, o povo brasileiro tem elegido uma parcela de canalhas e de medíocres para o parlamento, tendo como resultado a realidade que hoje vivemos: uma grande e complicada porcaria sócio-politica-economia-jurídica para resolver.

Nós o povo, a maioria do eleitorado, somos os culpados por esta insustentável situação. Ou fomos enganados, ou irresponsáveis, ou coniventes.

Será que há alguém que conteste a afirmação de que já estamos a viver uma guerra civil? Cinquenta mil assassinatos por ano, mais do que o total de mortos em toda a guerra do Vietnam, não é uma evidência suficiente? Não existem mais credibilidade e respeito para com o Estado e suas autoridades. Existe uma rebeldia crescente, sem objetivos claros a serem atingidos, que se configura com o deboche e a indisciplina social, que nada acrescentam à nossa história e nada constroem como alternativa para o momento que vivemos.

A nação está dividida, cansada, desmoralizada – urge que nos reergamos orgulhosos da nossa herança cultural e confiantes no futuro da pátria.

A democracia, fruto da genialidade da Civilização Ocidental, surgiu na Europa que, por sua vez, é fruto da pregação cristã. Assim sendo a Civilização Ocidental, nos seus fundamentos, é cristã. É a este substrato cristão que precisamos recorrer neste instante dramático para reencontrar os caminhos adequados ao espírito Humanista, aquele que confere a perspectiva da supremacia da dignidade inerente à pessoa humana na construção da nação.

O Brasil nasceu neste contexto cultural e nele desenvolveu-se. Agora corre o risco de tudo perder por conta da ação de um bando de malfeitores que tomaram o poder político.

Por quê as Igrejas Cristãs estão caladas? Há muito tempo elas já deveriam estar a denunciar a corrupção, a incompetência instalada nos órgãos governamentais. A democracia, a liberdade, o ideal da justiça, da paz e da solidariedade são os mais belos frutos coletivos da pregação evangélica.

Cidadãos e cidadãs de todas as denominações religiosas e colorações politicas democráticas precisam se unir hoje e exigir, não o apoio a siglas partidárias desmoralizadas ou a nomes de lideranças que estão aí no mercado, muito menos às palavras de ordem que apontam ingênuas e defeituosas propostas para a impossível imediata promoção do bem comum. Não. O que se quer e que deve ser exigido é muito simples: que os valores éticos que constituem nossa base cultural cristã sejam respeitados, sob o risco de virem a ser impostos pela justa reação popular. Os candidatos não podem ser idiotas, não podem ser bandidos, não podem ser demagogos, não podem ser mal formados academicamente.

A imprensa, a mídia – efetivamente o quarto poder político na estrutura e no funcionamento das modernas democracias - totalmente livre de quaisquer censuras - deve comprometer-se, radicalmente, como um múnus que lhe foi outorgado pela evolução histórica, com a sagrada missão de bem informar o povo.

O que se exige é que a moralidade seja restaurada antes da aprovação de quaisquer planos para a salvação da economia, do meio ambiente, da segurança ou do emprego. A população brasileira sabe que sem a competência e a dignidade dos funcionários públicos, em todos os níveis – operadores que são da promoção do bem comum - nada de bom e de permanente será construído.

Eurico Borba, 76, aposentado, ex professor e ex Vice Reitor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS.