A mediocridade do Conservadorismo e liberalismo no Brasil

Qualquer análise desapaixonada nos mostra como os ministérios de Temer são ocupados por figuras medíocres para as responsabilidades a que foram chamados. Não há ali nenhum que se destaque em sua área ou grande conhecedor dos desafios de sua pasta.

O atual ministro da Educação, por exemplo, discute com comentadores em redes virtuais como quem bate boca no trânsito. Não inspira autoridade e confiança para as mudanças drásticas que estão pretendendo realizar.

O ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab é antes de tudo um político. Ainda que tenha formação superior, lhe falta a vivência, conhecimento e visão da forma como funciona a pesquisa e o desafio de tirá-la da mediocridade.

De uma forma geral, o medíocre é um ótimo servidor. Se contenta em ter um bom chefe e não em ser chefe. Em ser dirigido e mandado e não em dirigir e mandar. E a verdade seja dita, quanto mais medíocre o chefe, menor deve ser o nível de seus subordinados, a não ser que queira ter sua autoridade posta em xeque.

Isto acontece também nas pós-graduações, alunos com ideias próprias e pouco dispostos a obedecer sem fazer perguntas, não tem vida acadêmica longa.

Um conselho que dou aos não medíocres: procurem ser chefes e lideranças o mais rápido possível! Não darão certo como pau mandados. Não serão felizes obedecendo a chefes menos capazes que vocês.

Cristóvão Buarque fora um homem forte e com a determinação necessária para fazer uma revolução na educação brasileira quando foi ministro de Lula. Duas coisas o afastaram do ministério: colegas de partido medíocres que não queriam trabalhar e pouca disposição a trair a si mesmo para contentar as prioridades de Luiz Inácio Lula da Silva.

O escândalo do mensalão foi a gota d'água para que este homem saísse do PT. Cristóvão Buarque, ex-reitor da UnB, fora um dos primeiros governadores a irem além da proposta do Bolsa Escola do FHC, implementando enquanto governador do Distrito Federal outros estímulos ao engajamento estudantil.

A verdade precisa ser dita. Homens medíocres não conquistam o poder, mas são colocados lá por outros mais poderosos que saibam manipular os limites deles a seu favor. Homens excepcionais são o principal problema para os que não querem mudança.

Deixar que o barco ande é muito mais simples. Os costumes, os hábitos e a inércia se encarregam que formas tacanhas e antiquadas de política se conservem - não exige grandes gênios para mantê-las. Por isto o medíocre governa sobre povos conservadores.

Povos mais progressistas querem mudanças, o medíocre não é capaz de inovar e tomar iniciativa. Por isto homens excepcionais são chamados e apreciados pelo povo. Ao contrário dos povos mais conservadores, que estranham os inovadores e se sentem mais seguros diante de homens limitados.

Infelizmente, o Brasil ratificou políticos conservadores. Isto por que somos um povo conservador e sem ambições como país. Por isto não há vontade de grandes mudanças, mas de conservar o que se tem. Dizia um político da minha cidade "Barbacena não precisa se mais indústrias, mas de conservar as que tem...".

Os conservadores atualmente representam o Brasil hierarquizado. Este país hierarquizado, machista, pobre e racista, não precisa de grandes mudanças. É preciso somente cuidar para não perder o que tem. Por isto seus quadros medíocres e ausência de um projeto de país que nos coloque no primeiro mundo.

Este Brasil conservador, que demanda uma rígida delimitação entre pobres e ricos, isto tanto em oportunidades quanto no nascimento, é herdeiro do antigo Brasil escravocrata.

Um liberal não medíocre percebe que o fantasma do comunismo é antes um espantalho para atrasar as mudanças sociais e econômicas para nos colocar entre os países mais competitivos do mundo.

O fantoche dos conservadores tem funcionado para atrair os liberais e progressistas. Para que ao concentrarem fogo sobre um inimigo inexistente, esqueçam de se atentarem para o que buscam estabelecer os conservadores.

Liberais como Reinaldo de Azevedo ou mesmo Rodrigo Constantino( liberais sérios me desculpem dá-los como referência, mas é uma imposição da argumentação) caíram nesta armadilha. Se precipitaram em se preocupar com o tamanho do Estado sem perceberem que uma sociedade conservadora sempre ocupará o Estado para que mudanças não ocorram.

Então ao invés dos liberais aproveitarem momentos propícios para irem além do PT em relação a pautas progressistas como melhoria na educação e da competitividade do trabalhador, se limitaram a criticar o tamanho do Estado e ao possível comunismo do PT.

Alguns liberais tem uma visão tão pequena que acreditam em sistemas particulares de ensino possam ser melhores e mais adequados aos desafios colocados a nossa educação. Acreditam que mercado pode resolver tudo.

Seus colegas abolicionistas sabiam muito bem que a escravidão haveria por deixar marcas institucionais no nosso país. Mas nossos liberais de orelha de livro, acreditam que o mercado pode ser mais forte que nossas instituições atrasadas e superá-las.

O arremedo de social democracia ensaiado pelo PT nos 13 anos de governo chegou ao seu declínio sem que os nossos pouco espertos liberais assumissem os setores progressistas desencantados pela corrupção. Enquanto bombardeavam o PT, os conservadores assumiram o Estado, que continuará um fanfarrão fiscal, sem devolver a sociedade em serviços públicos necessários e de qualidade.

O liberal brasileiro importou o modelo inglês para pensar nosso país, como se aqui uma classe de industriais tivesse surgido e estabelecido sem a cooperação do Estado. Ele esquece que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil sempre esteve atrelado ao Estado.

O principal erro dos nossos liberais pode ser sintetizado abaixo:

a) Esquecer que Estado forte não é só projeto de comunista, mas um projeto concreto do sistema financeiro, agronegócio e indústria no Brasil.

b) Acreditar que é possível reduzir o Estado sem que seus beneficiados reajam, não estou falando de negros e pobres, estou falando de banqueiros, empreiteiros e latifundiários.

c) Ignorar que mídia concentrada e monopolizada como nós temos é incompatível com o princípio da liberdade de imprensa.

d) Acreditar que mudanças serão possível sem que se desmonte a estrutura jurídica policial que nós temos.

e) Acreditar que correções no campo educacional e econômico se darão afastando o Estado destes compromissos.

f) Acreditar que afastando o Estado do mercado e reduzindo impostos teremos um grande progresso econômico.

O medíocre é indispensável ao conservadorismo, mas é um mal para o liberalismo. Por isto o conservadorismo terá vida longa na nossa política, enquanto os liberais continuaram a ocupar o papel de cão de guarda anti-comunismo, sem terem seus verdadeiros projetos contemplados.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 24/10/2016
Código do texto: T5802062
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